Obrigado a todos os que me ajudaram
Trilhos do Almourol
Era o meu grande desafio. Como sempre os treinos não tinham sido os mais apropriados a um evento destes, sabendo que 42 km na montanha nada têm a ver com os mesmos na estrada. O tempo não tinha ajudado nada pois há muito tempo que chove copiosamente, enchendo as albufeiras, os rios transbordando as margens e a terra feita lama.
Mas estava disposto a tudo. Teria que os fazer para demonstrar que tudo havia passado, que teria que oferecer a prova a quem muito me tinha ajudado, a minha mulher.
Seis horas da manhã, eu e Vitor Veloso vamos a caminho do Entroncamento, para a terra dos sonhos como ele o refere. Pela 4ª vez em quatro, estamos presentes neste evento.
O rebuliço do costume no Pavilhão onde estava montado o secretariado da prova. Rostos conhecidos, ambiente sorridente (é sempre assim, nem que seja o nervoso miudinho a sorrir), as saudações, os abraços, o companheirismo.
O Vitor disse que iríamos fazer a prova juntos do início ao fim. E assim foi exceto no fim, mas lá chegarei.
Partida na Aldeia do Mato, local onde mais uma vez a rapaziada do “O Mundo da Corrida” tirou a foto da praxe.
Partida depois dos conselhos dados pelo José Brito e na subida a minha primeira queda. Ao querer tirar uma foto, recuei e caí numa vala, mas sem problemas de maior.
Passagem por locais já nossos conhecidos dos anos anteriores e eis que surge a barragem do Castelo de Bode que, como no primeiro ano, jorrava litrões de água pela boca escancarada, lindo de se ver.
A minha bateira, desta vez em terra, mais velhinha, “olhou-me” como todos anos o faz, estamos a envelhecer juntos.
... E mais uma maravilha destes trilhos, a ponte sobre o rio Nabão "construída" pela Escola Prática de Engenharia.
Lama e mais lama. Riachos, uns limpos outros sujos. Subidas onde dar um passo em frente era uma luta para que não fossem dois passos atrás. O Vítor sempre ali no apoio e em subidas ou locais mais perigosos dava-me a mão para ultrapassar os obstáculos pois como levava a máquina fotográfica na mão nem sempre podia agarrar-me a preceito. Caí várias vezes, parecia o Camões a salvar o Lusíadas. Trambolhão aqui, trambolhão ali mas a máquina sempre fora do lamaçal e da água, mas era lama e como tal nada de grave.
Por vezes o corpo inclinava-se perigosamente e tentava manter o equilíbrio. Os km passando e vontade do querer vencer sempre presente. Fiquei admirado por não estar tão desgastado como pensava que estaria depois de tão longa ausência. Praia do Ribatejo onde o ano passado pensei em desistir, desta vez isso não aconteceu e outros desafios foram vencidos.
Eu e o Vítor de tanta lama que levavamos nos ténis, já não escolhíamos locais de passagem, sempre em frente, por cima de tudo. Enquanto uns companheiros tentavam por aqui ou ali o pé, nós já não nos preocupávamos com isso. Belos riachos, belas passagens e Almourol à vista. Fico sempre deslumbrado com este castelo. Desta vez não deu para entrar no castelo, mas ele é lindo tanto por dentro como por fora.
E fomos sempre os dois. Os abastecimentos eram fartos e ali quedávamos durante uns tempos apreciando o bom mel, o presunto ou outras iguarias presentes. Havia cerveja mas eu nem toquei. Já reparei que não me dou com líquidos em esforço, sempre que bebo dá-me cólicas. Só sólidos, para líquidos tinha a minha ‘limonada’.
Uma vista magnífica; os carris e o Tejo serpenteando e o Castelo.
O “rolo” da máquina acabou e o Vitor exultou com isso. Estava na hora de começarmos a correr e foi isso que fizemos. Nos últimos km foi como se tivéssemos começado. Sempre em força, nem a Delta da Lebre, subida íngreme, nos fez esmorecer.
A meta aproximava-se, estava a conseguir tudo o que tinha idealizado; acabar, dar um pontapé na doença, renascer de novo. Ao lado tinha um amigo que me estava a ajudar.
Pavilhão à vista, peço ao Vitor para terminar à frente quando sabia que ele queria acabar comigo. Mas eu queria acabar sozinho. Queria interiorizar o momento, queria estar comigo mesmo, queria sentir a emoção do cortar da meta.
Disse para o Vítor para aguardar por mim depois da meta cortada. Atraso-me um pouco, entro no pavilhão, os meus companheiros da Associação e amigos batem palmas e incentivam-me para os metros finais, corto a meta cerrando os punhos.
À minha espera tinha o Vitor. Um longo abraço a este companheiro, Obrigado Vitor pelo apoio sensacional durante toda a prova.
Para a minha mulher, de coração, dediquei esta prova.
Dirijo-me para os meus companheiros da Associação e abraçado deixo a emoção tomar conta de mim.
Veni, vidi, vici (vim, vi, venci)
Estou de volta!
P.S. - Obrigado a toda a Organização. Secretariado, sinalização, abastecimentos, segurança e o pessoal nos locais de passagem foram todos inexcedíveis em nos proporcionar todas as condições logísticas para uma prova de êxito.
5 comentários:
Os campeões não se abatem assim! Que bom ver o comando renascer!
E eu sei tão bem o que isso é pois na minha vida também já atravessei a trevas e até recuperei delas graças ao treino para uma prova que foi a a prova da minha vida!
Um enorme e emocionado abraço!
Emocionou-me este texto.
Um grande abraço, Mário
É uma emoção indescritível ver-te amigo e meu padrinho dos trilhos recuperado física e emocionalmente. Outros momentos de glória virão. Quero continuar a ver-te com o teu sorriso no rosto, em cada prova que participes, ao longo dos anos, nem que seja até à minha idade, mesmo que, nessa altura eu possa até já nem existir. Continua Mário. Um abraço nosso para ti e esposa.
Fernando Paiva Santos
Que bom ter o Sr. Sorriso de volta!!!
Mario, disse que faria a prova contigo e fiz, foi formidável percorrer os 42km dos Trilhos de Almourol, e vão quarto participações!!
É o prazer que nos dá, Não há nada melhor para reabilitar o Corpo e Alma. Na Terra dos Sonhos tudo é possível, com emoção foi dar aquele abraço no final.
Grande abraço
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