23.9.13

História de mentes perturbadas

Vejo-o sempre que lá vou treinar. De calções, garrafa de água na mão, está quase sempre num sítio onde o terreno faz socalcos e as raízes das árvores frondosas, são um bom local para se sentar e meditar.

Passo por ele em corrida, aproveitando a descida para imprimir um pouco mais de velocidade.

Digo bom dia, mas do outro lado nem som. Só o som do pinhal me responde.

Habituara a vê-lo, mês após mês. As vezes que não corro, vê-me de máquina na mão fotografando aqui e ali. Dantes levava uma garrafa na mão enquanto treinava, agora a garrafa vai no cinto e em seu lugar levo a máquina, minha companheira destas aventuras.

Estava no alto do pinhal tentando fotografar mais um motivo de interesse. Vejo-o a aproximar-se. Dirigi-me a palavra e faz-me uma pergunta que nunca esperava ouvir. Diz-me ele: - Como o vejo aqui sempre com a máquina, sabe-me dizer se o barulho que se ouve no pinhal é de cegonhas?

Cegonhas?! - disse eu perplexo. São cigarras que produzem este barulho por fricção das asas. Cegonhas são aquelas grandes aves que se veem e constroem os seus ninhos nas chaminés, ou nos postes de alta tensão.

Balbucinou algo, como um conhecido do Alentejo lhe tinha dito que eram cegonhas.

Fitei-o como não acreditando no que ouvira pois seria um pouco mais novo do que eu. Dando meia volta afastou-se.

Junto à entrada, um homem transportava ao ombro um saco cheio de caruma.

O som das cigarras soava menos forte, sinal que o verão está a acabar!

Foto: Mário Lima