«E, a passo, o breque foi penetrando sob as árvores do Ramalhão. Com a paz das grandes sombras, envolvia-os pouco a pouco uma lenta e embaladora sussurração de ramagens e como o difuso e vago murmúrio de águas correntes. Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve; e naquele simples bocado de estrada, todo salpicado de manchas de sol, sentia-se já, sem se ver, a religiosa solenidade dos espessos arvoredos, a frescura distante das nascentes vivas, a tristeza que cai das penedias e o repouso fidalgo das quintas de Verão...»
Eça de Queiroz in «Os Maias»Ali estava eu em Sintra. A vila que não quer ser cidade. Sintra imortalizado pelo pena do meu conterrâneo Eça e por Lord Byron que a considerou o “Eden Glorioso”.
Pela primeira vez iria participar no «Grande Prémio "Fim da Europa"». Tinham-me referido como sendo uma prova difícil, mas se fosse fácil eu não estaria ali. Olho para as escarpas encimadas pelo Palácio da Pena. Que loucura do homem fazer um Castelo em tão alta penedia.
Quando vou para as provas faço questão de conhecer quem comigo partilha a escrita neste tipo de comunicação. Assim, através do
Adelino, conheci a
Otília e o José Brito e a
Ana Pereira que fazia anos (mais uma vez Parabéns Ana). O amigo
Fábio bem me procurou o
Carlos Lopes mas não encontrado.
Prova começada. Perco de vista o Adelino e a filha Susana e começo a subir, subir, subir. Junto-me à
Susana e as subidas nunca mais acabam. Olho para cima, vários patamares de gente correndo, ora num sentido ora noutro. Vejo o meu amigo João Melo, acelero e colo-me a ele mas foi um colar de pouca dura, não era supercola3 e lá se foi ele embora. Passam por mim os amigos
Pedro Ferreira, o Hamilton e Fernando Faria, olho para trás para ver se só faltava passar o carro-vassoura mas, para meu alívio, tal não vislumbrei. Perco a pedalada começo a andar e, no último km a subir, quase que tenho vontade de dar meia-volta e começar a descer, mas sabia que faltava pouco para chegar ao cume. Durante o percurso vários ciclistas aproveitavam para nos saudar... E o céu ali tão perto!
Olho para baixo, para o verde da vegetação... Lindo! O céu, cinzento, aparecia entre as ramagens das árvores. Com o apoio do Carlos Coelho e incentivado pelo Adelino (obrigado amigos) atinjo o cume. Eis a descida. O Carlos acelera e eu vou com ele. Não corríamos, “voávamos”, deu vontade de ir à “reboleta” pela serra abaixo.
O Carlos, fazendo juz ao apelido, acelera cada vez mais, eu vou ficando, mas sempre numa boa passada (isto é como os carros, por mais rápido que a gente vá há sempre um carro que vai mais depressa).
Ao longe vou divisando o Cabo da Roca e o mar, ah, o mar! E eu que nasci tão perto de ti, agora tenho que subir e descer para te ver.
Um vento lateral forte vai-me empurrando, vejo a Otília e mais um esforço e estou a seu lado, mas quem treina nos trilhos de Almourol não dá hipótese e eu fico mais uma vez para trás numa luta solitária com o vento.
Corto a meta, dirijo-me à tenda, a medalha coloco-a com orgulho ao peito, peço um sumo, vou até às mesas e uma cantiga do Zeca me assoma:
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada!
Zeca, antes os vampiros eram os sisudos, agora até se riem na cara de quem lhes faz reparo para os sacos cheios. Pobres coitados!
Para o ano irei fazer esta prova de outra forma. Fica aqui o registo para não me esquecer!
Tempo Oficial: 1h33'42" (Nesta prova baptizaram-me de Mário Lino, Mário Lino "jámé"!!!)Mais canções do Zeca Aqui