6.11.22

I Trail Demónios do Lizandro

Segundo a mitologia grega, assim que morremos Tanato reivindica a nossa alma e Hermes nos conduz ao reino de Hades.

Para isso temos que atravessar 5 rios infernais no submundo. São eles: Estige, Aqueronte, Cócito, Lete e Flegetonte.

Não foram rios mas ribeiros que nesta prova passamos. Seriam 5 ou seriam dois, três, passados mais que uma vez?!

Mas os ribeiros não eram infernais. A sua água fresca eram uma delícia para os nossos pés. Num deles caí, mas que maravilha sentir o fresco daquela água passar-me pelo corpo. Senti-me Midas que para se libertar do toque de ouro, teve que se banhar no rio Pactolo.

A lama que nos fazia deslizar, a corda que nos ajudou a subir, o arco de canas que nos fez sentir que entrávamos numa outra dimensão, a vista da natureza e do casario que se via lá do alto, o campo lavrado, o cheiro da clorofila, tudo isso nos embala e nos enleva.

As aldeias silenciosas, o prazer de ali estar, de ali correr ou andar.

E foram 16 km de pura beleza. Já não me importa o tempo, o tempo que me dê prazeres destes e o amanhã não é mais do que um desejo de voltar hoje.

... E que venha a ninfa Estige que será o seu rio infernal por todos acalmado. Pois não há ninfa que deseje mal a quem no seu rio banhe em comunhão com o que de melhor estes Demónios nos oferece: a natureza!

foto: Paulo Sezilio Foto Desporto

30.10.22

I Trail Running D. Maria

A alegria da chegada.

Nunca de braços abertos tinha terminado uma prova.

Estava em sofrimento devido à água que tinha bebido e me tinha caído mal. Estava com vómitos mas, ao longe, um fotógrafo, abaixado, estava pronto para mais uma foto, para captar mais um momento que irá permanecer enquanto eu viver.

Não podia deixar transparecer na foto, o que me ia no corpo. E o sorriso naturalmente surgiu. Pelo que tinha passado e porque nunca me veja como derrotado.

Já desisti duas vezes em trail, já fui para o hospital duas vezes em trail, mas nunca acabei de rastos num trail.

E abri os braços pela primeira vez. Satisfeito comigo, satisfeito pela minha resiliência e satisfeito por fazer o que gosto.

O meu agradecimento à organização, ao corpo de bombeiros que me assistiu no final e a tod@s os fotógraf@s presentes.

Foto: Armindo Santos

5.10.22

G. P. Vale Grande

Se o ano passado fiz 1:04:53 tempo bruto, este ano não alterei muito: 1:04:04.

Como é normal em mim, a descer e em plano sou um "queniano", a subir é que são elas. Tem que ser com cana de pesca pois a cabeça pede, mas as pernas não obedecem e lá vou eu em passo de caracol. Sempre foi assim mas, agora, pior.

Este GP do Vale Grande, é a MM S. João das 'Rampas" em versão curta.

Está feita. Alguns amigos do passado, outros do presente, encontrados. No fim uma sande de porco, cerveja e fruta para recuperar as forças. Ambiente de festa, sorrisos e abraços a rodos.

Parabéns à organização, aos fotógrafos presentes e até para o ano no local do costume.

1.8.22

O feito do feito

Agora que está feito o feito, algumas curiosidades.

Treinos - 23 dias (1 bi-diário)

Treino mais longo - 15,140 km

Treino mais curto - 4,1 km

Média diária - 6,5 km

Média semanal - 50 km

Calorias - 16 184

Temperatura mais alta - 37°

Temperatura mais baixa - 23°

(no único treino noturno que fiz, a começar às 20 h, estavam 32°)

Local onde mais vezes treinei - Parque Urbano do Rio da Costa

Provas pelo meio

- 5° Green Trail - 12,140 km

- Légua noturna de Odivelas - 5 km

O que sempre levei - 0,5 l garrafa de água

No último dia, a t-shirt que está na foto.

Foi a minha homenagem a Analice Silva, por ter quase sempre treinado no seu local de treino e porque por vezes senti que ela estava a meu lado, levando a que nos dias em que estava quase a desistir devido ao calor, a Analice "dava-me a mão" e levava-me até ao fim.

Por ti Analice, está feito!

31.7.22

200 km

Se no passado esta distância e superior, era normal fazer na maior parte dos meses, a partir de determinada altura deixei-me disso. Não valia a pena e dediquei-me a outros projetos.

Este mês quis pôr-me de novo à prova, e verificar se os conseguiria fazer.

Com muita dificuldade, pois os treinos foram feitos muitas vezes com temperaturas acima dos 32°, mas com a persistência e resiliência que me caracteriza, o objetivo foi conseguido.

É para repetir?! Não, não o voltarei a fazer. Foi um desafio que fiz a mim mesmo, e nada justifica voltar a fazê-lo.

27.7.22

Saudades de ti

Quando eu morrer, vou ter saudades de ti.

Da tua forma de ser, do teu otimismo, do teu sorriso e de duras batalhas vencer.

Do tempo no Maiombe, das vezes que caíste e levantaste sempre!

Vou ter saudades de ti, de ti e da natureza que te rodeia.

Cada vez estás mais velho, mas sempre o mesmo brilho no olhar!

Sentir saudades de ti, é sentir saudades de mim.

foto: Miguel Pinho

17.3.22

Corrida dos Sinos

Comecei a ir à Corrida dos Sinos em 1993. Durante 14 anos nunca deixei de marcar presença.

Inicialmente, até 1995, esta prova tinha 15.173 km, a partir desse ano fixou-se nos 15 km.

A prova começava na Avenida 25 de Abril e os últimos 500 metros era de sacrifício, pois tinha cá uma subida...

Mais tarde a partida passou para a Av. Dr. Francisco Sá Carneiro, e a acabar no Parque Desportivo Municipal Eng.º Ministro dos Santos.

O meu melhor tempo (em 2000 deixei de anotar), foi de 57'01" em 1994, mas sempre dentro dos 58' e uns 'pozinhos'.

Nesse ano (1994) não houve Sino mas sim uma medalha. Penso que houve um problema no molde.

Junto ao Convento de Mafra, pelo menos uma vez que me lembre, os carrilhões tocaram à nossa passagem. 16 anos depois o meu regresso. Não com a frescura física desse tempo, mas sempre com a mesma vontade. Na foto pode-se ver a medalha referida, no meio de 13 Sinos.
Primeira participação na Corrida dos Sinos

14 de fevereiro de 1993

15,173 km - 58'33"

Reparar que os dorsais ainda eram escritos à mão. Penso que na época não havia chips, o controlo de passagem era um fio que nos davam no retorno, para colocar ao pescoço.
Em 2004 curiosamente a Corrida dos Sinos foi no dia 25 de Abril.

Nessa prova estava muito em baixo fisicamente, e foi o amigo Calisto (à minha direita, dorsal 299) que literalmente me rebocou até à meta (01:06:57)
Em 2005 - (3 abril, nos femininos ganhou a minha conterrânea Fátima Silva), como não tive ninguém para me 'rebocar' fiz pior tempo (1:07:47)
A minha última participação foi em 2006 (2 de abril) com o tempo de 01:12:45. Já com problemas...

Este foi o último ano de corridas. Devido aos treinos loucos que fazia, provas quase todos os fins de semana e a trabalhar por turnos sem o descanso devido, arranjei pubalgias que me impediam quase de andar. O médico queria-me operar mas como não garantia que eu voltasse a correr, optei por parar.

Perto de dois anos foi a minha travessia no deserto, quando voltei a correr pesava 83 kg.

Treino após treino, corrida após corrida, mantenho-me nos 73/74 kg. Nunca mais voltei a ser o que tinha sido, nem em peso, nem em tempos.

Tudo tem o seu tempo!

14.3.22

O tempo parado no tempo

Devido ao tema anterior, fui ver as fotos da Corrida das Lezírias de 2011, ano onde ocorreu o facto relatado.

Depois retrocedi mais um ano e ali estavam as fotos de há tantos anos atrás.

Tantos rostos conhecidos, até a nossa 'menina' Analice.

Alguns nunca mais os vi, outros, poucos, continuam a envelhecer comigo na vida e na corrida.

E nas fotos congeladas no tempo, vi-me mais novo uns 12 anos, a diferença não é muita mas... 😁

Eu e a lezíria, aqui numa foto de 2010 tirada pelo amigo Carlos Viana Rodrigues que juntamente com o Zé Gaspar e o Sr. Melro, fizeram a reportagem para a AMMA, dessa prova.


fotos de outros anos

21/03/2004
6/03/2005

13.3.22

O fotógrafo e a corrida

"Fotografia é a arte de parar o tempo sem que o tempo precise parar."

Edna Frigato

Sou do tempo da fotografia analógica. Com o rolo lá íamos tirando fotos, mandava-se revelar e muitas vezes as fotos eram pagas, mas deixavam muito a desejar.

E era assim nos anos 90, quando comecei a correr. O Sr. Pimenta era o nosso fotógrafo de serviço, nas provas das coletividades do concelho de Loures.

Na prova seguinte lá nos mostrava as fotos tiradas nas provas anteriores e quem as quisesse, pagava-as bem. Nas provas mais carismáticas, tínhamos a FOTODESPORTO.com, a AMMA...

Com a chegada do digital, tudo se alterou. Outros fotógrafos surgiram, Marcelino Almeida (que já vinha do analógico), Paulo Alfar, Vasco Cabós, Armindo Santos... que continuam a congelar o tempo. Fotografias espetaculares, fotografias que são momentos que ficam para sempre, passe o tempo que passar. Tenho o maior respeito por todos eles e...

Corrida das Lezírias, 13 de março de 2011.

Partida dada e na ponte de Vila Franca estava um fotógrafo muito conhecido de todos nós atletas, o Sr. António Melro Pereira pai da amiga Ana Pereira, já com uma respeitável idade, a tirar fotos para a AMMA.

O Sr. Melro (nome que é conhecido por nós) estava na zona pedonal da ponte enquanto nós corríamos, como é óbvio, na estrada. Mas há gente que anda neste mundo só para chatear e, alguns atletas, com tanto espaço na estrada, iam pela estreita zona pedonal.

Vejo o Sr. Melro a tirar fotos, aceno para o cumprimentar. De repente um sujeito a correr na zona pedonal, empurra o Sr. Melro. Chego-me ao pé dele, amparo-o e vendo que estava bem, corro atrás do sujeito. Ele só sentiu a minha mão à volta do pescoço e o aviso, que se o visse a fazer de novo o mesmo, aquele pescoço ficaria bem magoado.

No regresso, ali estava o Sr. Melro no cumprimento da sua missão.

Um sorriso, um cumprimento e longa vida para si amigo.

Foto do Sr. Melro nessa prova.
Alguns que tinham pressa em chegar... e com tanta estrada ali ao lado.

6.2.22

31° Corrida do Fim da Europa

Estava a necessitar de uma prova assim.

Uma prova que me correu excelentemente, na companhia de uma atleta que começou há pouco. Sem grande esforço, nas calmas, que até elevei o meu VO2 que andava nas ruas da amargura, subi, corri e desfrutei.

«E, a passo, o breque foi penetrando sob as árvores do Ramalhão. Com a paz das grandes sombras, envolvia-os pouco a pouco uma lenta e embaladora sussurração de ramagens e como o difuso e vago murmúrio de águas correntes. Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem...»
Eça de Queiroz in «Os Maias»

E o musgo ali estava nos muros onde a sombra se projetava enquanto nos locais solarengos, a pedra se apresentava limpa como se o tempo não passasse por ela.

A meu lado, durante toda a prova, via um sorriso de quem ainda de poucas andanças, vai vencendo os desafios. Com calma se vai ao longe. E, ao longe, o Cabo da Roca com a sua cúpula vermelha, era como um chamariz para apressarmos, para chegar mais rápido onde Camões tão bem definiu no seu Canto III:

"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano."

Sem cansaço algum, inebriado com os cheiros das árvores do Ramalhão e da maresia, a prova foi vencida.

23.1.22

Trail de Lousa 2022

Uma prova bem durinha. Começa logo a subir e parecia que estava a subir os Pirinéus.

Nunca mais chegava ao topo, com muita pedra solta, caminhos estreitos e escorregadios, mas quem sobe também desce. Outras subidas nos esperavam mas foi numa descida onde tudo era lama, que tive a primeira queda. Nada de mais, quem cai também se levanta... os trilhos não se compadecem com as nossas fraquezas.

Segunda queda devido a uma raiz, parecia que estava na tropa, quando me apercebi... estava de cara no chão. Uma ferida no joelho mas, de novo, há que levantar e continuar.

E embora cansado, acabei os meus km. Doeu, subidas difíceis, descidas escorregadias, mas se fosse fácil eu não estava lá.

14.1.22

Correr lesionado

Todos (ou quase), já corremos lesionados, ou porque somos teimosos e se pagámos a prova temos que lá estar, ou porque pensamos que a lesão não é assim tão grave que nos impeça de fazer a prova.

Durante os meus 30 anos de corrida, corri e não foram assim tão poucas as vezes. A única vez que desisti, e logo nos primeiros 500 metros, foi na MM de Almada. Não deu para mais.

São várias as provas que corri lesionado como em Almeirim, Casa Sena, MM dos Descobrimentos, 25 km Critérium, BNU, 1° de Maio, Tagarro, Metropolitano, Benavente, Vale de Figueira...

Nos apontamentos que tenho para não colocar lesionado, colocava treino. Como não dava para mais, parafraseando o amigo Luiz Mota: #tudoetreino.

Aqui foi nos 20 km de Cascais em 2012. E como ia em 'treino' fiz 1:50:27 (o meu melhor tempo nesta prova 1:18:21).

6.1.22

Desistir, a última das opções.

Quando numa prova se pensa em desistir, algo nos diz para continuar. Não pensamos no que nos poderá acontecer, vamos até que o corpo já exausto diga que tem que parar, que não dá mais! Não dá mais?

Na UMA (Ultra Maratona Atlântica Medidas/Tróia) já aconteceu arranjar forças interiores que nos impele, que fazem com que a palavra desistir não seja uma opção. E arriscamos, e vamos ao sabor do vento, ao sabor da força mental que nos diz... vai!

E aquela meta tão perto e tão longe. Um último assomo de vontade, um último correr, pois parece mal passar a meta a andar, e eis-nos a ultrapassar a linha mítica que separa a vontade de desistir, da força de conseguir.

Muitas vezes, lágrimas rebeldes assomam-nos aos olhos, os punhos cerram como a dizer:"Conseguiste".

Graças a ti, graças à tua vontade férrea, graças à força que estando dentro de nós se assoma, quando pensamos que nada mais há lá dentro. Nestes 30 anos de corrida, desisti quatro vezes (todas em trail). Fiz o que tinha a fazer.

Mesmo a loucura tem limites.

5.1.22

Corrida dos Reis - Agualva-Cacém

odos os anos, ou quase, falhei em 1993, era certo e sabido que esta corrida era para ser cumprida. Era a primeira corrida do ano.

Na distância de 11,5 km, a mesma iniciava na Av. Bons Amigos no Cacém, e terminava na Junta de Freguesia.

Ainda mal refeitos dos excessos, era uma forma de ali queimar as calorias e gordura acumulada e, como a prova não era fácil, pois tínhamos umas subidas bem difíceis, era bem custoso esse início. No retorno, a descer a Avenida em direção à meta, era ver os atletas a darem o seu melhor, pois a descer todos os Santos ajudam.

No fim havia um sorteio de várias ofertas dos patrocinadores.

O meu melhor tempo foi em 1995, com 40'54" (3'52"/km).

Só tenho apontamentos das provas até início de 2001.