26.1.20

Fim da Europa - 2020*

Nunca tinha ido a esta prova de comboio. Noite mal dormida como sempre quando tenho prova, pegar no saco e a caminho da vila que Lord Byron chamou de “glorioso Éden” e Almeida Garret “amena estância”.

Cheguei cedo, muito cedo, deu para ver a bruma subindo a serra, o Palácio da Pena ir aparecendo e o dia modificando. Tinham dado céu muito nublado e afinal o sol surgiu, o tempo ficou agradável e a serra à espera daqueles que a iam desfrutar.

Parti às 10h, com a amiga Maria Puga que era a primeira vez que participava na prova. Logo nos primeiros km senti que não estava em condições físicas para as subidas. Mesmo considerando que as subidas sempre foram o meu 'calcanhar de Aquiles', estava difícil conjugar o esforço com a respiração e arfava desesperadamente. Bem procurava controlar fruto de tantos anos de provas, mas nada. A Maria Puga bem me apoiava e mostrava preocupação, mas eu dizia que não era nada e que recuperaria. Sabia que não o conseguiria e correndo e andando, deixei-me ir.

Olhei aquele verde luxuriante, as árvores que ladeavam a estrada, faziam-me lembrar outros sóis, outras luas, outros tempos. O cheiro da maresia começou a invadir-me. O mar, o mar fitava-me como dando-me um abraço. Eu e o mar, o mar e eu seremos um dia um só.

O farol, os sorrisos, os braços levantados, os incentivos e, de mão dada, eu e a Maria passamos a meta. Terminada a prova, o abraço amigo e sentido.

Tudo o resto não importa, só a camaradagem.. Os amigos são para ficar no coração.

1.1.20

O GPS*

Tudo na vida tem um princípio e um fim.

No princípio era o Verbo e, a partir daí, surge o Tempo. Durante milénios, o sol era o principal medidor do tempo, e surgem os relógios de sol (os obelisco eram relógios e surgiram há 3500 a. C.). Depois tudo evolui e surgem os relógios de corda e, mais tarde, com a evolução tecnológica, aparecem relógios que nos dão indicações preciosas, relativamente ao batimento cardíaco e outras, e uma função importante... O GPS.

Até 2010, como corria em estrada, sempre usei o relógio normal de pilhas com cronómetro. Como é óbvio, o relógio não media a distância, e como tudo ou quase na época, era medida a 'olhómetro' ou por uma roda que ia a um metro do passeio e fazia a contagem da distância, nada era fiável. Chegava-se ao fim da prova, parava-se o cronómetro e era assim que avaliávamos o tempo feito numa pseuda distância 'correta'.

Em 2010 passo a correr em montanha. Ali o cronómetro não me servia de nada pois querendo avaliar a quilometragem feita, teria que recorrer aos novos relógios que apareceram com GPS. Nos trilhos não há indicação de km a km. Corre-se e se não tivermos algo que nos oriente sobre os km percorridos, é certo e sabido, que quando aparece as indicações de 10/20.../50km já vamos com a língua de fora por falta de controlo da nossa parte do esforço efetuado.

Comprei o meu Garmin 205 (estava comprado e outros já estavam a aparecer sempre com novas funcionalidades).

A semana passada, ao fim de 9 anos de serviço, chegou ao fim. Ainda comprei uma bateria mas tudo aquilo, tal como nós, mesmo colocando um 'coração' novo, o 'corpo' estava desgastado. Já na meia maratona tinha dado sinal disso, apagou algumas vezes durante a prova.

No último treino, tenho 7km mas corri mais pois quando me apercebia estava apagado e logicamente assim não contabiliza nem distância, nem tempo.

Foram muitas as provas feitas com este relógio. 'Correu' comigo muitas serras e montanhas, andamos de noite de 'mão' dada ouvindo o barulho do mar em provas noturnas. Corremos nas areias quentes de Melides/Tróia, foi minha 'amante' nas horas tristes e alegres que a corrida nos proporciona e é com relativa tristeza que olho para o fim dele. Nunca mais irá ficar no meu pulso. É um relógio sim, sem sentimentos, sem tic-tac que se ouça, mas tem muito de mim.

Esta foi a sua última leitura.