O espectador/ator do filme senta-se na sua poltrona. O ar condicionado do velho cinema arrefece-lhe o corpo por momentos do calor que fazia antes de entrar no velho e decrépito local onde anos antes, fazia a delícia de uma vida ainda no início das corridas onde o prazer se sobrepunha ao agora sacrifício de ter que calçar as sapatilhas e correr pelas velhas calçadas como se não houvesse amanhã. Mas o amanhã chegou mais depressa do que tinha imaginado e a vontade esmorece dia a dia.
Ouve-se de novo o gongo. As cortinas abrem-se à sua frente e ele é de novo catapultado para o interior do filme, do seu próprio filme.
A viagem decorre sem sobressaltos. Quilómetros percorridos, as planícies alentejanas desfilam perante os seus olhos, com a terra da cor do ouro. O calor continua inclemente. Uma placa indica que a paisagem alentejana será substituída pela algarvia. Quase a chegar ao local de destino veem-se nuvens de fumo, muitas nuvens de fumo, a serra ardia.
De longe era fantasmagórico, de perto seria o inferno de Dante. Centenas de homens e mulheres tentavam apagar o que mãos criminosas tinha incendiado.
Chegado ao destino. Era já tarde e o calor não era convidativo a não ser para o almoço e depois um refrescar nas águas da piscina.
Nesse dia, o fogo seria debelado. Faz-se o rescaldo do que tinha ficado em pé, dos animais mortos, das pessoas que ficaram sem os seus haveres.
Mas foi "sol de pouca dura". Nessa mesma noite, de madrugada, o fogo reacendeu-se. E a luta dos soldados da paz volta de novo para outras paragens da mesma serra. Uma luta titânica contra a força dos elementos e mãos criminosas que se fosse no Congo do ditador Mobutu, seriam decepadas para não voltarem a fazer o mesmo. Mas vivemos numa democracia e as mãos que incendeiam podem voltar a fazer o mesmo enquanto o calor continuar.
O vento muda de direção. Ele tenta calçar os ténis para de novo voltar à estrada pois uma maratona o espera. Sente o cheiro de terra queimada. O sol fica "manchado" da cor do sangue. A cidade envolta num vermelho, a respiração dificultada pelo ar rarafeiro. As cinzas espalham-se por tudo o que é sítio. Não havia condições para correr. A lua surge tal como o sol, envolta num vermelho que vem das entranhas da serra, das chamas que lavram por mato e pinheiros, das chamas que voltam a consumir o trabalho de uma vida, os animais da sua subsistência, da lavra que mitigue a fome.
Desiste. Durante dias a serra arde, nada havia a fazer senão aguardar por melhores dias que vieram muito depois, se calhar já tarde demais.
20.9.16
18.8.16
Objetivo: 20 km
Senta-se na 1ª fila. Atrás e aos lados, ninguém. Só ele e o palco. Toca o gongo. Vai iniciar o filme.
Abrem-se as cortinas, as primeiras imagens são projetadas. Ao contrário de "A Rosa Púrpura do Cairo" não sai o herói da tela, mas é o espetador que ali está, que entra no écran. Ele é o próprio filme.
A temperatura está alta. Nada convidativa para fazer um grande treino, mas tem que ser; agora ou nunca. Ontem, no prólogo, ele fizera o contrário daquilo que estava previsto, eram 5 fez 10 km. Hoje eram 12, seriam 20.
As cigarras estavam silenciosas mas foi sol de pouca dura. Parecia que estavam à espera dele para cantarem todas ao mesmo tempo. Devem-se ter enganado nas feromonas ou as cigarras de hoje já não são esquisitas. Marcha tudo o que mexe. Mudança dos tempos.
5, 10,12 km a bom ritmo. Uma paragem aqui e ali para encher os "depósitos" de água. Depois foi o sacrifício. Lembrou-se do grito da tribo Bantu que aprendeu nos Comandos «Mama Sumae» (estamos prontos para o sacrifício) mas verdade seja dita que naquele momento não se sentiu nada um guerreiro bantu. Mas quando um pé se recusava a avançar o outro seguia em frente e que remédio tinha o primeiro senão acompanhar o segundo.
Já o corpo não reagia mas avançava sempre. Pensa desistir aos 15, aos 16, aos 18 e acabou por "desistir" aos vinte.
Tinha realizado o pretendido.
Senta-se cansado, esgotado, ainda faltava um km até chegar a casa.
Levanta-se e segue. As cortinas fecham e só se ouve o silêncio. Não há palmas para um filme onde só existe uma única personagem.
Abrem-se as cortinas, as primeiras imagens são projetadas. Ao contrário de "A Rosa Púrpura do Cairo" não sai o herói da tela, mas é o espetador que ali está, que entra no écran. Ele é o próprio filme.
A temperatura está alta. Nada convidativa para fazer um grande treino, mas tem que ser; agora ou nunca. Ontem, no prólogo, ele fizera o contrário daquilo que estava previsto, eram 5 fez 10 km. Hoje eram 12, seriam 20.
As cigarras estavam silenciosas mas foi sol de pouca dura. Parecia que estavam à espera dele para cantarem todas ao mesmo tempo. Devem-se ter enganado nas feromonas ou as cigarras de hoje já não são esquisitas. Marcha tudo o que mexe. Mudança dos tempos.
5, 10,12 km a bom ritmo. Uma paragem aqui e ali para encher os "depósitos" de água. Depois foi o sacrifício. Lembrou-se do grito da tribo Bantu que aprendeu nos Comandos «Mama Sumae» (estamos prontos para o sacrifício) mas verdade seja dita que naquele momento não se sentiu nada um guerreiro bantu. Mas quando um pé se recusava a avançar o outro seguia em frente e que remédio tinha o primeiro senão acompanhar o segundo.
Já o corpo não reagia mas avançava sempre. Pensa desistir aos 15, aos 16, aos 18 e acabou por "desistir" aos vinte.
Tinha realizado o pretendido.
Senta-se cansado, esgotado, ainda faltava um km até chegar a casa.
Levanta-se e segue. As cortinas fecham e só se ouve o silêncio. Não há palmas para um filme onde só existe uma única personagem.
17.8.16
"Em Busca dos Quilómetros Perdidos"*
Num cinema perto de mim.
Sinopse: Quando tentava percorrer os quilómetros previstos, o calor atinge valores que fazem com que cada quilómetro percorrido seja uma tortura. A garganta seca, o suor escorre, as tonturas sucedem-se. Encontra uma pequena gruta no tempo e aguarda por dias menos soalheiros.
Acorda, as cigarras cantam mas não com o fulgor de outros dias. Nuvens aqui e ali não deixam passar os raios quentes do sol. Sozinho vai de encontro ao tempo. Pequenas gotículas refrescam-lhe o rosto. Os quilómetros passam-lhe debaixo dos pés. Será agora que consegue o pretendido?
Sinopse: Quando tentava percorrer os quilómetros previstos, o calor atinge valores que fazem com que cada quilómetro percorrido seja uma tortura. A garganta seca, o suor escorre, as tonturas sucedem-se. Encontra uma pequena gruta no tempo e aguarda por dias menos soalheiros.
Acorda, as cigarras cantam mas não com o fulgor de outros dias. Nuvens aqui e ali não deixam passar os raios quentes do sol. Sozinho vai de encontro ao tempo. Pequenas gotículas refrescam-lhe o rosto. Os quilómetros passam-lhe debaixo dos pés. Será agora que consegue o pretendido?
11.8.16
Isto está mau
Com o muito calor e as várias mudanças do horário de trabalho, os treinos para a Maratona tem sofrido reveses.
Desde janeiro até hoje, fiz 106 treinos, 118 horas de corrida e 872,5 km.
Estou com 83% do objetivo, ainda não fiz um único treino de 20 km (+2 de 24km) pois calharam exatamente no mês de julho/agosto que com temperaturas acima de 36º dá mas é para estar dentro de um piscina (ou no mar) só com a cabeça de fora e isso porque ainda não aprendemos a respirar sem escafandro, dentro de água. Estou a ver a maratona ir por um canudo.
Até 15 dias antes da maratona tenho que recuperar os longos treinos não feitos e espero que o tempo ajude.
Se não conseguir, sento-me no meu penedo e vejo os maratonistas passar.
Desde janeiro até hoje, fiz 106 treinos, 118 horas de corrida e 872,5 km.
Estou com 83% do objetivo, ainda não fiz um único treino de 20 km (+2 de 24km) pois calharam exatamente no mês de julho/agosto que com temperaturas acima de 36º dá mas é para estar dentro de um piscina (ou no mar) só com a cabeça de fora e isso porque ainda não aprendemos a respirar sem escafandro, dentro de água. Estou a ver a maratona ir por um canudo.
Até 15 dias antes da maratona tenho que recuperar os longos treinos não feitos e espero que o tempo ajude.
Se não conseguir, sento-me no meu penedo e vejo os maratonistas passar.
9.8.16
Eram 3 horas da manhã...
... e ainda as cigarras cantavam.
Nem de noite se pode treinar.
Esta maratona em outubro vai ser bem dura vai. E se estiver calor nem sei se acabarei. Eu e o calor não se dão.
Nem de noite se pode treinar.
Esta maratona em outubro vai ser bem dura vai. E se estiver calor nem sei se acabarei. Eu e o calor não se dão.
5.6.16
IV Ultra Trail de Sesimbra
Na manhã de hoje, em Sesimbra, com muitos atletas em variadas quilometragens, e organizado pela Associação Desportiva O Mundo da Corrida participei pela primeira vez como "vassoura", na prova dos 21 km. Sempre em "último", cabia-me a função de acompanhar o último participante.
Sendo por trilhos, e em plena Arrábida, o cenário era deslumbrante e com muitas subidas e descidas lá cumpri a minha missão.
Desde junho do ano passado que não participava em provas de trail e, embora em função diferente, foi bom voltar ao contacto com a natureza.
Sendo por trilhos, e em plena Arrábida, o cenário era deslumbrante e com muitas subidas e descidas lá cumpri a minha missão.
Desde junho do ano passado que não participava em provas de trail e, embora em função diferente, foi bom voltar ao contacto com a natureza.
20.5.16
O leão e a gazela
Provérbio Africano
Toda manhã na África, a gazela acorda. Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões para sobreviver. Toda manhã um leão acorda. Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome.
Não importa se você é um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, comece a correr.
Toda manhã na África, a gazela acorda. Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões para sobreviver. Toda manhã um leão acorda. Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome.
Não importa se você é um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, comece a correr.
1.5.16
Corrida Internacional 1º Maio
Como acontece todos os anos, hoje voltei a correr em Lisboa na Corrida Internacional 1º Maio organizada pela CGTP.
O encontro com amigos, o voltar a correr na cidade, o cansaço na subida da Almirante Reis e acabar em beleza no Estádio do Inatel de onde tinha começado a prova.
Pena é que não tivesse havido o som de outros anos, nem Zeca, nem Sérgio, nem os Gaiteiros. Nada. Silêncio absoluto quanto a música mas a algazarra natural dos olás, dos abraços, das conversas, dos Pingo-Doces que continuam a provocar a unidade e a razão da existência do 1º de maio.
E há quem vá e há quem os apoie.
Uma prova que continua a motivar a nossa ida, não tivesse ela uma razão de ser.
Depois na vinda ao levar a Analice a casa, deparo-me com o trânsito interrompido na zona do Olival de Basto, razão, a Comunidade Sikh devia estar a comemorar algo. Muito colorido, muita gente, carros bonitos, mas eu com pressa. Nada que não se resolva. Uma marcha-atrás, e há sempre um caminho desconhecido que espera por nós. A pressa era muita pois ainda tinha que ir para a outra banda, onde, por azar, outra fila tremenda para atravessar a ponte 25 de abril.
Deu para contar e fotografar com o meu neto, os aviões que iam passando por cima do Aqueduto das Águas-Livres.
O encontro com amigos, o voltar a correr na cidade, o cansaço na subida da Almirante Reis e acabar em beleza no Estádio do Inatel de onde tinha começado a prova.
Pena é que não tivesse havido o som de outros anos, nem Zeca, nem Sérgio, nem os Gaiteiros. Nada. Silêncio absoluto quanto a música mas a algazarra natural dos olás, dos abraços, das conversas, dos Pingo-Doces que continuam a provocar a unidade e a razão da existência do 1º de maio.
E há quem vá e há quem os apoie.
Uma prova que continua a motivar a nossa ida, não tivesse ela uma razão de ser.
Depois na vinda ao levar a Analice a casa, deparo-me com o trânsito interrompido na zona do Olival de Basto, razão, a Comunidade Sikh devia estar a comemorar algo. Muito colorido, muita gente, carros bonitos, mas eu com pressa. Nada que não se resolva. Uma marcha-atrás, e há sempre um caminho desconhecido que espera por nós. A pressa era muita pois ainda tinha que ir para a outra banda, onde, por azar, outra fila tremenda para atravessar a ponte 25 de abril.
Deu para contar e fotografar com o meu neto, os aviões que iam passando por cima do Aqueduto das Águas-Livres.
25.4.16
25 de abril - Corrida da Liberdade.
Com a presença, pela primeira vez, do meu neto, tendo como pano de fundo, música de Zeca Afonso e o cravo da Liberdade, corri esta prova, o que faço há 25 anos seguidos.
Desta vez levei o cronómetro pois seria mais um treino agendado para a maratona que farei em outubro.
Foi a minha primeira prova deste ano. Muitos amigos e, infelizmente, a prova desta vez, não teve início dentro do quartel da Pontinha que foi em abril de 74, o Centro de Comando das operações que deu origem à revolução.
Fui quase do princípio ao fim com a Analice, essa veterana de 72 anos que ontem tinha feito um prova de trilhos de 30 km no Vale de Barris.
11km em boa companhia, com os cheiros da festa, o cravo na mão e o sorriso nos rostos.
Uma alegria e, neste caso, o tempo é o que menos importa. Importa sim comemorar Abril, Ontem, Hoje e Sempre!
Reportagem fotográfica do meu neto. O puto tem jeito!
Desta vez levei o cronómetro pois seria mais um treino agendado para a maratona que farei em outubro.
Foi a minha primeira prova deste ano. Muitos amigos e, infelizmente, a prova desta vez, não teve início dentro do quartel da Pontinha que foi em abril de 74, o Centro de Comando das operações que deu origem à revolução.
Fui quase do princípio ao fim com a Analice, essa veterana de 72 anos que ontem tinha feito um prova de trilhos de 30 km no Vale de Barris.
11km em boa companhia, com os cheiros da festa, o cravo na mão e o sorriso nos rostos.
Uma alegria e, neste caso, o tempo é o que menos importa. Importa sim comemorar Abril, Ontem, Hoje e Sempre!
Reportagem fotográfica do meu neto. O puto tem jeito!
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