19.11.13

21ª Corrida do Monge*

Depois da noturna de Óbidos em agosto, não mais tinha participado em prova alguma já que o corpo ainda não tinha recuperado dos problemas da desidratação acontecido em Almonda.

Mas como não há mal que sempre dure, um "Lion" como eu, habituado aos extremos tanto do corpo como da alma, moldado em terras e picadas africanas e não em cheiro de pneus no asfalto, sabia que voltaria a enfiar os ténis, subir e descer montanhas curado das maleitas.

O meu regresso seria exatamente nesta prova, que fora o 1º ano que lá participei (2011) que me motivou uma escrita de desagrado, tinha todos os condimentos para o meu voltar aos trilhos. Curta (11.458metros) mas dura qb para verificar se a "máquina" funcionava em pleno.

Assim com a Analice, fomos até Janes onde o reencontro com os amigos foi intenso e felizes com o meu voltar ao convívio de todos eles. Um olhar permanente para o GPS para um começar a sentir a adrenalina da partida, das conversas de ocasião, da amizade que se sente.


Levo a minha máquina fotográfica na mão. Iria correr sem pressa, tirar fotos, voltar a sentir o prazer da corrida.

Dada a partida, quatro km sempre a subir. Depois foi o embrenhar por caminhos de fetos, pontes de toros, riachos correndo num ambiente mágico, onde a natureza nos substitui, onde somos pequenos nadas comparados com a luxuria do verde que nos rodeia.

Foto: Mário Lima

Umas descidas mais técnicas, um passar de km e sempre o verde presente. Depois da Albufeira do Rio da Mula vem o corta-fogo tão temível que todos antes de o subir já sentem o peso dessa subida. Mas, lentamente, vai-se subindo.

Foto: Mário Lima

Chegado ao topo e depois do cruzamento da Portela, vem as descidas e, com elas, aumento o ritmo. Como costumo dizer a cabeça que vai à frente é sempre para vencer. E passei muitas cabeças até que a meta se avizinhou. Transporta a meta, fui aguardar a chegada dos companheiros da Associação e da Analice.

Chegada em apoteose desta senhora de 69 anos. Numa passada infernal e ao som dos aplausos dos presentes corta a meta mão na mão com a Célia Azenha. Grande prova desta pequena/grande Mulher.

Foto: Mário Lima

Embora tivesse ficado em 10º lugar em 20 do meu escalão, não aguardei pela entrega da medalha já que ia acontecer muito tarde e viemos embora. Ficou a certeza que, pouco a pouco, voltarei em termos de saúde ao caminho certo, que tudo o mais fará parte do passado.

10º lugar com o tempo de 1:29:56. Foto: Mário Lima

23.9.13

História de mentes perturbadas

Vejo-o sempre que lá vou treinar. De calções, garrafa de água na mão, está quase sempre num sítio onde o terreno faz socalcos e as raízes das árvores frondosas, são um bom local para se sentar e meditar.

Passo por ele em corrida, aproveitando a descida para imprimir um pouco mais de velocidade.

Digo bom dia, mas do outro lado nem som. Só o som do pinhal me responde.

Habituara a vê-lo, mês após mês. As vezes que não corro, vê-me de máquina na mão fotografando aqui e ali. Dantes levava uma garrafa na mão enquanto treinava, agora a garrafa vai no cinto e em seu lugar levo a máquina, minha companheira destas aventuras.

Estava no alto do pinhal tentando fotografar mais um motivo de interesse. Vejo-o a aproximar-se. Dirigi-me a palavra e faz-me uma pergunta que nunca esperava ouvir. Diz-me ele: - Como o vejo aqui sempre com a máquina, sabe-me dizer se o barulho que se ouve no pinhal é de cegonhas?

Cegonhas?! - disse eu perplexo. São cigarras que produzem este barulho por fricção das asas. Cegonhas são aquelas grandes aves que se veem e constroem os seus ninhos nas chaminés, ou nos postes de alta tensão.

Balbucinou algo, como um conhecido do Alentejo lhe tinha dito que eram cegonhas.

Fitei-o como não acreditando no que ouvira pois seria um pouco mais novo do que eu. Dando meia volta afastou-se.

Junto à entrada, um homem transportava ao ombro um saco cheio de caruma.

O som das cigarras soava menos forte, sinal que o verão está a acabar!

Foto: Mário Lima

4.8.13

Óbidos - TNLO - 26km

Depois do sucedido em Almonda e não totalmente recuperado, como estava inscrito para os 26km, resolvo ir à prova. Como prova noturna, o calor não seria muito e por isso arrisquei.

Sigo para Óbidos com a minha mulher e o amigo Vítor Veloso.

Um pôr-do-sol maravilhoso aguardava-nos...


Enquanto a prova dos 50 km começava às 21h, a nossa teve início às 21h45, mas antes disso o reencontro com os amigos...


Dado o início, como havia estreantes da minha Associação, resolvo ir com eles. Mas de noite todos os gatos são pardos e passei a ter a companhia de uma só companheira da Associação, a Ana Cristina.

Com descidas bastantes técnicas e íngremes que requeriam uma certa cautela, fomos fazendo a prova. Outros companheiros se foram juntando, e em grupo desafiamos a noite, só uma única vez nos perdemos perto dos 21km mas rapidamente voltamos ao trilho correto.

Duas valas com água mal cheirosa sendo a 2ª mais funda, que provocou umas cãibras a um companheiro que não contava mas nada de mais.

O pior estava para vir. Depois de mais uma vala, a Ana segue em frente, mas por mero acaso viro e o meu frontal incide sobre um sinal que fosforesce, o que nos indicava que a prova era por ali e não por onde a Ana ia.

Chamo-a e reparamos que era um coletor de águas residuais, com água estagnada, lama, aranhas e outras bichezas...

O companheiro que tinha ficado com cãibras numa das valas, tinha um arranhão profundo num dos gémeos. Seria um bom recetor de parasitas que estariam naquelas águas.

Saídos do tunel, cheios de lama, com o corpo a tresandar de mau cheiro, há que seguir em direção ao castelo que já se avistava.

Na subida final do "assalto" ao castelo, ouço que vinha a chegar o Luís Mota, o 1º dos dos 50km. Aguardo que passe e o Luís ao ouvir a minha voz de felicitação, disse para ir com ele, para acabarmos a prova juntos. E assim foi...

Foto: Ana Ceríaco

A foto com a companheira de toda a prova, Ana Cristina, não poderia faltar...

Foto: Ana Ceríaco

A caneca de mais uma bela prova noturna...

Foto: Ana Ceríaco

Um belo banho para limpar aquela porcaria toda e aguardo pela chegada do Vitor que fora para os 50km. Depois o regresso a casa e para o ano há mais.

Lugar da geral - 295

Escalão - 6º

Tempo - 3:52:28

7.7.13

Almonda - Ascensão e Queda*

A meteorologia dava como previsão, um tempo quente a rondar os 42º. Tinha feito o que sempre faço, hidratei-me durante a semana e a caminho da prova bebi o que tinha a beber.

No início tudo era sorrisos como sempre:




Eram 9h da manhã quando foi dada a partida. O sol já aquecia e bem. Em todos os postos de abastecimento comi melancia e bebi muita água.

Durante os primeiros km a sombra predominava, o sobe e desce ia-me desgastando, mas como nunca fui bom a subir...

Abastecimento dos 15 km. Ali iria terminar a sombra. A seguir seria a subida à Serra D'Aire. Ia na companhia de vários companheiros entre eles o Joaquim Adelino.


Depois de um pequeno engano no trilho e regressados ao caminho certo comecei a verificar que algo não estava bem. Comecei a ficar para trás e disse ao Joaquim que continuasse.

Comecei a sentir a cabeça "andar à roda". Tinha água no camelback e bebia, mas o sol impiedoso não me dava tréguas. Tinha que chegar ao abastecimento seguinte pois de nada me valia vir para o abastecimento anterior já que a distância era a mesma. Olhava para o GPS e via que andava (já há muito que não corria) a 20' o km. Nunca tal me tinha acontecido.

Estava desesperado. Abrigava-me na sombra das pequenas árvores que a serra tinha (com os incêndios havido em anos anteriores, toda a serra ficou "despida" de árvores). Via muitas borboletas juntas num só rebento tal a razia que tinha havido na serra.

Fortes dores de estômago comecei a ter. A vontade de vomitar era muita. A minha água parecia que tinha saído do fogão de tão quente que estava. Deveriam estar 43 a 44º ali. Por mim ou passavam ou ficavam nas pequenas sombras, outros "zombies" como eu.

Passou a Paula Madeira e disse-lhe que iria ficar no próximo abastecimento. Ela disse que faria o mesmo e seguiu. Já não conseguia levantar os pés do chão e aquilo sempre a subir. As pequenas pedras do trilho eram "pedregulhos" que me custavam a ultrapassar.

Fui apanhado pelo companheiro João Martins e foi ele a salvação. Levou-me literalmente ao "colo" até ao abastecimento do km22. Parava quando eu o fazia, sentava-se comigo quando já não tinha forças e assim fui-me aproximando do local onde ficaria.

Foto: João Martins

No abastecimento do km22, muitos dos que ali ficaram eu era o que estava em pior condição. Deitei-me à sombra da carrinha que lá estava e aí se alguém tivesse que se "apagar" apagava-se. Não havia sombra a não ser a projetada pela carrinha. Perto de mim o companheiro António Nascimento também sentia-se mal e, tal como eu, o vomitar era uma constante. Todos os que estavam em piores condições procuravam essa sombra como se dela dependesse a vida e se lá não fiquei (ou ficámos) posso agradecer a três pessoas que foram inexcedíveis; Ana Cristina Batista, Paula Madeira e ao José Velez. Para eles o meu muito obrigado. Grato por tudo o que tentaram e conseguiram até que a carrinha carregasse, até que a carrinha começasse a levar-nos e até que a carrinha chegasse ao Vale da Serra e aí nesse trajeto o José Velez foi enorme pois nunca me deixou um momento, preocupadíssimo pois várias vezes teve a carrinha que parar pois aquele caminho de cabras fazia com que o meu estômago se colasse à boca e vomitava o que tinha e o que não tinha.

Chegado ao Vale da Serra, aguardava-me o companheiro Vitor Veloso que ficou preocupadíssimo perante o meu estado. Fui encaminhado para umas escadas onde me sentei e os bombeiros tentaram a todo o custo fazer com que reanimasse. Tentaram dar-me de comer mas eu nem ver quanto mais comer. Lembro-me depois de um rosto, a Ana Ceríaco e ela ter dito que era enfermeira penso que foi quando me tirou sangue de um dos dedos para ver a glicémia que se encontrava normal. Mas eu já não "via" ninguém.

Os bombeiros queriam-me levar para o Hospital. A ambulância ao sol e estava renitente em ir pois lembrava-me do episódio terrível que me tinha acontecido na Geira Romana em 2010, mas os bombeiros tomaram a atitude certa, levaram-me para o Hospital de Torres Novas.

Dei entrada nas Urgências e os exames deram uma desidratação extrema que me tinha afetado os rins. Levei dois litros de soro e fui tratado com muito profissionalismo e carinho por todos (dediquei a assinei o meu peitoral que deixei no Hospital como reconhecimento pela forma como fui tratado).

No Hospital. Foto: João Martins

Agradecimentos:

O meu muito Obrigado aos bombeiros por terem tomado a decisão correta. Ao Vitor Veloso companheiro de muitas corridas pela enorme preocupação que sempre manifestou pela minha saúde e, no Hospital de Torres Novas, recebi a presença dele, da Paula Madeira, da Analice, Ana Ceríaco, Carlos Pinto-Coelho e Isabel Paiva (desculpem se mais houve mas naquele momento o discernimento não era muito).

À Margarida Henriques, ao Eduardo Santos e de novo ao João Martins que ali permaneceram no Hospital a meu lado em "prejuízo" da sua vinda para os seus recantos, pois deviam estar "estourados" e bem necessitados de descansar também.

Obrigado meus amigos. É esta forma de ser e estar que me faz acreditar que ainda há gente boa, há amigos que nunca devemos perder, há situações que acontecem que embora não a desejemos não acontecem por acaso.

Para todos o meu bem-haja e sabem que podem contar sempre comigo, para o que der e vier.

Agora terei que fazer novos exames para ver se os rins estão a funcionar em pleno e não ficaram mazelas. Mas acredito que não! Um “Comando” não se deixa afetar por estas pequenas coisas.

Obrigado a todos!

(coloquei aqui esta minha foto no Hospital de Torres Novas, não só como agradecimento pela forma excecional como fui tratado tanto pelo pessoal auxiliar, enfermeiros(as) e médicos, mas também para sabermos auscultar e aceitar os sinais do corpo. O meu corpo dizia-me que dali do km22 não deveria sair. Se tivesse continuado decerto que, a esta hora, a história poderia ter sido outra).

2.6.13

12ª Corrida do Mirante*


Mais uma vez um regresso à Ota para participar na sua "Corrida do Mirante". Tinha ficado "rendido" o ano passado à beleza do percurso, à Organização impecável e ao convívio final no Parque das Merendas com o "à lá Assa Tu".

Desta vez para além do Vitor Veloso, da filha e da minha mulher, levava uma convidada especial, a atleta Analice Silva. A Organização fazia questão de a lá ter e esta grande Amiga não se fez rogada e lá foi. Numa singela e bonita homenagem foi-lhe entregue um peitoral personalizado e uma placa a assinalar a sua presença.

Foto: Mário Lima

O reencontro com os amigos...

Foto: José Marçal Silva

A foto da equipa de "O Mundo da Corrida" que esteve presente neste evento...

Foto: Irene Lima

Ao contrário do ano passado este ano não levei máquina fotográfica durante a prova, iria somente correr. A passagem pelo famoso "V" que exige uma boa dose de força física e anímica...

Foto: Paula Fonseca

Descidas que fiz sempre em bom ritmo...

Foto: Zita Pinto

... E um final cansado mas satisfeito pela prestação. 4º lugar no meu escalão em 1:28:30.

Foto: Irene Lima

Depois o Parque das Merendas...

Foto: Irene Lima

... E assim se passou um belo domingo, numa bela prova, num bom convívio e até pró ano... Na Ota!

P.S. - Um Obrigado à Organização pela simpatia com que ano após ano, nos recebem! Bem-Hajam!


25.4.13

Corrida da Liberdade - 2013


Todos os anos faço questão de participar nesta prova. Uma prova sem o espírito competitivo. Uma prova em que estamos ali pela vontade de comemorar a Revolução de Abril. Uma prova que reflete o ambiente festivo na altura que estamos a passar um momento de muita dificuldade com a troika mais uma vez a impôr aos portugueses a vontade deles. E o povo é quem paga, e o povo é que estrebucha e os causadores da crise continuam como se nada tivessem a ver com isto.

Mas é este mesmo povo quem mete no "poleiro" sempre os mesmos, tem o que merece.

Abril irá continuar, Abril fará sempre a diferença entre aqueles que sonham com a Liberdade e aqueles que vivem à custa dessa mesma Liberdade. E o povo não aprende!

Festejemos e eu sempre que puder, farei a festa pá!

25 de Abril... Sempre!

21.4.13

Raid Vale de Barris - 2013*


Era a 4ª vez que me deslocava ao Vale de Barris para fazer o Raid. Com a "carona" do Vitor Veloso e do Filipe Fidalgo ali estávamos nós prontos para mais uma aventura.

Com Ana São Bento

Depois da intervenção do Paulo Mota dá-se início à prova. Como acontece todos os anos mais uma vez o percurso foi alterado e eis-nos a subir uma escadaria pela 1ª vez.

Muitas subidas e descidas, mas tudo bem até à serra de S. Luís que tem como se sabe uma vista magnífica sobre o rio Sado e Tróia.

Depois da descida íngreme da serra contava que as coisas melhorassem e não houvesse mais grandes subidas e descidas. Puro engano. Das provas que aqui fiz foi a que teve muita sombra, beleza natural mas de uma dureza incrível.

Duas subidas que fizeram mazelas na minha condição física e foi a muito custo que terminei a prova

Pró ano há mais!

7.4.13

Almourol - A Força do Querer*

Estive três longos meses doente. Bati às portas do inferno. Sofri como nunca me tinha acontecido. Graças à minha mulher, família e amigos estou ressurgindo das cinzas. Primeiro foram os "Trilhos de Sicó" na prova mais curta, agora o desafio era maior… 42 km em Almourol. Venci, o passado passou, conta agora o presente feito futuro.

Obrigado a todos os que me ajudaram


Trilhos do Almourol


Era o meu grande desafio. Como sempre os treinos não tinham sido os mais apropriados a um evento destes, sabendo que 42 km na montanha nada têm a ver com os mesmos na estrada. O tempo não tinha ajudado nada pois há muito tempo que chove copiosamente, enchendo as albufeiras, os rios transbordando as margens e a terra feita lama.

Mas estava disposto a tudo. Teria que os fazer para demonstrar que tudo havia passado, que teria que oferecer a prova a quem muito me tinha ajudado, a minha mulher.

Seis horas da manhã, eu e Vitor Veloso vamos a caminho do Entroncamento, para a terra dos sonhos como ele o refere. Pela 4ª vez em quatro, estamos presentes neste evento.

O rebuliço do costume no Pavilhão onde estava montado o secretariado da prova. Rostos conhecidos, ambiente sorridente (é sempre assim, nem que seja o nervoso miudinho a sorrir), as saudações, os abraços, o companheirismo.

Com o Paiva no pavilhão

O Vitor disse que iríamos fazer a prova juntos do início ao fim. E assim foi exceto no fim, mas lá chegarei.

Com o Vítor

Partida na Aldeia do Mato, local onde mais uma vez a rapaziada do “O Mundo da Corrida” tirou a foto da praxe.

Parte do grupo da Associação "O Mundo da Corrida"

com o Vítor e Joaquim Adelino

Partida depois dos conselhos dados pelo José Brito e na subida a minha primeira queda. Ao querer tirar uma foto, recuei e caí numa vala, mas sem problemas de maior.

Em primeiro plano Carlos Alfaiate, Paula Madeira e Vítor Veloso

Passagem por locais já nossos conhecidos dos anos anteriores e eis que surge a barragem do Castelo de Bode que, como no primeiro ano, jorrava litrões de água pela boca escancarada, lindo de se ver.

A barragem. Foto: Mário Lima

A minha bateira, desta vez em terra, mais velhinha, “olhou-me” como todos anos o faz, estamos a envelhecer juntos.

Foto: João Martins

... E mais uma maravilha destes trilhos, a ponte sobre o rio Nabão "construída" pela Escola Prática de Engenharia.

Foto: Vitor Veloso

Lama e mais lama. Riachos, uns limpos outros sujos. Subidas onde dar um passo em frente era uma luta para que não fossem dois passos atrás. O Vítor sempre ali no apoio e em subidas ou locais mais perigosos dava-me a mão para ultrapassar os obstáculos pois como levava a máquina fotográfica na mão nem sempre podia agarrar-me a preceito. Caí várias vezes, parecia o Camões a salvar o Lusíadas. Trambolhão aqui, trambolhão ali mas a máquina sempre fora do lamaçal e da água, mas era lama e como tal nada de grave.

Por vezes o corpo inclinava-se perigosamente e tentava manter o equilíbrio. Os km passando e vontade do querer vencer sempre presente. Fiquei admirado por não estar tão desgastado como pensava que estaria depois de tão longa ausência. Praia do Ribatejo onde o ano passado pensei em desistir, desta vez isso não aconteceu e outros desafios foram vencidos.

A vencer mais um obstáculo. Foto: Vitor Veloso

Eu e o Vítor de tanta lama que levavamos nos ténis, já não escolhíamos locais de passagem, sempre em frente, por cima de tudo. Enquanto uns companheiros tentavam por aqui ou ali o pé, nós já não nos preocupávamos com isso. Belos riachos, belas passagens e Almourol à vista. Fico sempre deslumbrado com este castelo. Desta vez não deu para entrar no castelo, mas ele é lindo tanto por dentro como por fora.

O Castelo de Almourol. Foto: Vitor Veloso

E fomos sempre os dois. Os abastecimentos eram fartos e ali quedávamos durante uns tempos apreciando o bom mel, o presunto ou outras iguarias presentes. Havia cerveja mas eu nem toquei. Já reparei que não me dou com líquidos em esforço, sempre que bebo dá-me cólicas. Só sólidos, para líquidos tinha a minha ‘limonada’.

Uma vista magnífica; os carris e o Tejo serpenteando e o Castelo.

Foto: Mário Lima

O “rolo” da máquina acabou e o Vitor exultou com isso. Estava na hora de começarmos a correr e foi isso que fizemos. Nos últimos km foi como se tivéssemos começado. Sempre em força, nem a Delta da Lebre, subida íngreme, nos fez esmorecer.

Foto: Acácio Machado

A meta aproximava-se, estava a conseguir tudo o que tinha idealizado; acabar, dar um pontapé na doença, renascer de novo. Ao lado tinha um amigo que me estava a ajudar.

Pavilhão à vista, peço ao Vitor para terminar à frente quando sabia que ele queria acabar comigo. Mas eu queria acabar sozinho. Queria interiorizar o momento, queria estar comigo mesmo, queria sentir a emoção do cortar da meta.

Disse para o Vítor para aguardar por mim depois da meta cortada. Atraso-me um pouco, entro no pavilhão, os meus companheiros da Associação e amigos batem palmas e incentivam-me para os metros finais, corto a meta cerrando os punhos.

À minha espera tinha o Vitor. Um longo abraço a este companheiro, Obrigado Vitor pelo apoio sensacional durante toda a prova.

Foto: Fernanda Paiva Santos

Para a minha mulher, de coração, dediquei esta prova.

Foto: Ana Ceríaco

Dirijo-me para os meus companheiros da Associação e abraçado deixo a emoção tomar conta de mim.

Veni, vidi, vici (vim, vi, venci)

Estou de volta!

P.S. - Obrigado a toda a Organização. Secretariado, sinalização, abastecimentos, segurança e o pessoal nos locais de passagem foram todos inexcedíveis em nos proporcionar todas as condições logísticas para uma prova de êxito.

17.3.13

Monsanto - Preparar Almourol

Monsanto

Eram charcos e charquinhos pelo caminho.
Subidas e descidas escorregadias
Mas que prazer ver lá no meio do verde
O azul das mansas águas do Tejo
Sentir-me um tudo no meio do nada
Sentir-me um nada no meio do tudo.

Costuma-se dizer que de poeta e de louco todos nós temos um pouco. Neste meu caso é de corredor e de louco não tenho um pouco devo estar mesmo apanhado da caixa dos "pirolitos".

E tudo porque neste domingo me deu para fazer 3 horas de treino nas matas de Monsanto. Eu que nunca tinha passado de treinos de cerca de uma hora e mesmo assim sem grandes manifestações de trepador em serras e serranias, deu-me esta pancada e lá fui eu com a minha inevitável 'limonada' pela Pontinha/Benfica/ Monsanto.

Depois foi a loucura total. Mal conheço Monsanto. Vai por aqui, vai por ali... Perdi-me! Alto lá, está ali uma placa "Ajuda". Foi ali que fiz a corrida da àrvore. Lá vou eu. Subo, subo e quando estava a chegar quase aos Perinéus, vejo um local conhecido, sem querer tinha chegado ao local da Corrida da Árvore. E agora que caminho tomar? Para a esquerda é o caminho, o país escolheu a direita mas eu tenho esta tendência o que se há-de fazer!!!

Um carro da PSP: «Olhe amigo sabe-me dizer por onde ir para chegar à Fonte Nova?». Vá sempre por esta estrada, depois quando vir Benfica siga por aí. Obrigadinho ó chefe e lá vou eu.

Mas caramba eu tinha visto que qualquer coisa que dizia bairro Serafina. Numa placa sumida vejo Serafina, e lá vou eu. Sobe, desce, eu já farto de estrada e de caminhos e o tempo a passar. Duas horas sempre a dar-lhe e eu sem saber se estava bem se ia parar a Samouco para meter água.Querem ver que ainda faço os mesmos km de Almourol e ainda tenho que mandar um help para me irem buscar?

Alto aí!!! O que diz aquele letreiro? Papagaio da Serafina??? Eu passei por aqui quando vim. Viragem à esquerda e encontrei os trilhos da minha salvação, aqueles já os conhecia. Olho para o Garmin, ainda faltam 45' para as três horas. Três horas são três horas em Monsanto ou na Moita e comecei a correr por dentro e sem saber como voltei-me a perder. Uma pista para ciclistas, uma via rápida, indicação Benfica e a Catedral da Luz a piscar-me o olho. Corri, corri e nada de encontrar a saída. Passo por cima da minha ponte por onde tinha entrado, bem olhava e nada por onde pudesse subir para lá. Mais um km à frente um outro viaduto. Subo passo para o outro lado e começa doer-me tudo. Já levava duas horas e meia e ainda me faltavam uns 5 km para chegar a casa. Correndo, andando, 2h52' depois chego finalmente.

Estou todo partido, Almourol o quanto "obligas". Espero às 20h30' estar ainda acordado para ver o meu Benfica!!!


https://connect.garmin.com/modern/activity/285453496

9.3.13

Treino da Biodiversidade


Percurso ligando a zona ribeirinha de Belém ao coração verde da cidade – Monsanto, com um desnível positivo de 254m, que inclui estrada e trilhos, monumentos nacionais e miradouros, bairros tradicionais e natureza, e uma vista deslumbrante em boa parte do percurso.

Há coisas que acontecem e a gente não sabe muitas vezes a razão. Estava para não ir a este treino, mas num virar do corpo perguntei a mim mesmo o que ali fazia deitado se Lisboa estava linda.

Olhei pela janela e num ápice tomei o pequeno-almoço e lá fui até Belém. Em boa hora fui.

Estão a ver esta foto?


Pois não é que durante o treino viemos a saber que somos da incorporação do mesmo mês e ano para a tropa, fomos na mesma altura para Nova Lisboa para a recruta e embora não da mesma companhia, estivemos ambos em Cabinda no mesmo ano.

As coincidências ficariam por aqui se não houvesse mais. Era meu vizinho em Luanda. Ambos morávamos na mesma rua.

Durante este treino foi um desfolhar de recordações de locais, cheiros e vivências destes dois companheiros que nunca se tinham visto (ou se nos vimos nunca a conversa se proporcionou a um conhecimento mais profundo sobre locais e ambientes por nós percorridos).

Foi lindo pá! Foi bonito recordar os cheiros das matas, de Miconge, do Mayombe, do Treme-Treme, do Bairro Marçal, do Colonial, do Suba, da nossa rua, dos nossos amigos.

Há dias assim. Há dias que no ficar na cama se perde estes momentos únicos.

Agora que te conheço mais lembranças irão ocorrer quando estivermos juntos de novo, haja oportunidade para isso...

Para ti amigo Carlos um abraço do tamanho da "nossa" Angola.

........................

Foi uma manhã espetacular com gente boa e percorrendo locais que fazem parte desta 4ª mais bonita cidade do mundo, Lisboa.

Confesso que muitos locais só de nome e outros nem de nome. Um chamou-me à atenção a Igreja da Memória. Pensava eu que teria a ver com os descobrimentos mas não, tem a ver com o maroto do nosso rei D. José I que andava a "mijar" fora do penico.

Aqui fica a história.

Fundada por D. José I, num gesto de gratidão por se ter salvo de uma tentativa de assassínio dois anos antes, em 1758, no local.

O monarca regressava de um encontro secreto com uma dama da família Távora quando a carruagem foi atacada e uma bala o atingiu num braço. Pombal, cujo poder já era absoluto, aproveitou a desculpa para se livrar dos seus inimigos Távoras, acusando-os de conspiração. Em 1759, foram torturados e executados. As suas mortes são comemoradas por um pilar no Beco do Chão Salgado, junto da Rua de Belém.

O projeto da Igreja é do italiano Giovanni Carlo Sicinio Galli Bibiena

Fim do treino numa bela manhã de conhecimentos e camaradagem.


5.3.13

Corrida da Árvore*

Não tinha previsto esta minha participação nesta prova. À ultima da hora um companheiro não pôde ir e eu tomei o seu lugar sem em antes ter pedido a alteração de todos os dados junto à organização referente à minha idade e escalão. Só me mudaram o nome o resto ficou com os dados do companheiro que não foi, aparecendo assim na classificação geral, no entanto já retificada.

Embora more relativamente perto de Monsanto não conheço bem a zona e foi por mero acaso que fui parar ao local de partida. Quando ia na A5 e virei para Monsanto, ao meu lado nos sinais parou um carro com atletas, à minha pergunta se iam para a prova e ao sinal afirmativo foi só segui-los. Para cá depois da prova, como é bom de ver, como não tinha guia perdi-me mas cheguei a bom porto.


Com companheiros da minha Associação presentes no evento.


Com a manhã muito fria e céu cinzento, deu-se início à prova.


Como não tinha ideia nenhuma sobre a prova, parti de trás e fui tentando saber como a mesma era. Disseram-me que havia umas subidas de respeito e que a última para a meta era um pouco íngreme.

Sendo assim aproveitava as descidas para acelerar resguardando-me para a tal subida.

Ia consultando o relógio e via os km a passar e nada da tal subida. Com 9 km feitos era impossível haver a tal subida. Foi quando me apercebi que já estava a descer para a meta. Dei tudo o que tinha naquele momento, afinal a tal subida já a tinha subido e não me tinha apercebido disso.

Com 51'45'' no meu Garmin terminei a prova (oficialmente com o tempo de 0:52:25, tendo ficado em 16º no meu escalão M6099. Na geral em 390 entre 1017 que terminaram não foi mau).


Depois foi o convívio final com os amigos, "pegar" na amiga Analice e regressar a casa.


Gostei bastante da prova. O pinheirinho que nos deram já está plantado. Espero que medre para o colocar na natureza.

2.3.13

IV Trail de Sicó*

Organizado pela Associação "O Mundo da Corrida" realizou-se em Condeixa-a-Nova o IV Trail de Conímbriga-Terras de Sicó.

Que grande evento (pela primeira vez fiz 22 km, sendo totalista nas três anteriores edições na prova mais longa), com tantos e bons abastecimentos ao ponto de ouvir companheiros dizerem que sem sede e fome, era pena não provarem o que de bom aquelas mesas tinham e outros a referir que parecia a "Rota dos Queijos", pelos queijos, pão, mel que ali estavam à nossa disposição.

Foi bom voltar àquelas aldeias, àquelas gentes, àquelas paisagens maravilhosas. Passar por Conímbriga, pela ponte romana, ver desta vez o rio dos Mouros com um bonito caudal.

Que prazer ouvir naqueles sítios mais bonitos e onde seguíamos bem perto uns dos outros, referirem a pena que tinham em não poderem levantar os olhos do terreno para poderem desfrutar em pleno a magnífica paisagem envolvente.

Nem a queda que tive numa subida com grande pancada num joelho numa pedra retirou o prazer de sentir que isto sim, isto é lindo, isto é maravilhoso, isto é Sicó.

A música, o apoio e carinho da população, os bombeiros sempre presentes, os sorrisos, a minha malta sempre ali no apoio a todos, o cortar da meta e as classificações a serem 'debitadas' de imediato para o suporte informático, a preocupação da organização para que nada faltasse fez com que esta prova tenha tido o sucesso merecido.

Parabéns a todos os que participaram, parabéns a todos que contribuíram para esta grande festa do desporto, parabéns a toda a população de Sicó.

Só no trail é que há fotos assim, a nossa Analice com uma aldeã. Foto: Francisco Bossa

Os meus agradecimentos ao posto médico que me atendeu, e resolveu de imediato o problema no joelho. Está dorido sim, mas é uma dor que é suplantado pelo prazer de ter estado neste evento.

A terminar a minha prova 2:55:42 depois.


Aqui a ver a chegada de outros atletas (Marcus Bonito)

Fotos: "O Mundo da Corrida"

O meu diploma


No fim um saco repleto de ofertas. Para além da t-shirt, uma garrafa de vinho, queijo, escarpiada.

Não há provas como a dos trilhos. Pró ano voltarei mas para os 45km. Até lá minha gente de Sicó, tudo de bom.