7.6.15

Corrida do Mirante - 2015

Não há duas sem três, aos três acabou-se.

Geira Romana 2011 - Almonda 2013 - Mirante 2015. Em todas elas entrei numa âmbulância, em duas delas fui para o Hospital (Almonda e Mirante).

Tudo estava a correr bem embora, como trabalhando por turnos, o descanso não tenha sido suficiente.

Seria mais uma prova, agora com mais uns km's que na edição anterior, embora esta prova seja terrível pelo seu constante sobe e desce, mas nada que já não tivesse feito. Começando às 9h dava mais um tempo sem o sol impiedoso.

Como sempre com a máquina fotográfica, ia tirando fotos aqui e ali, parando algumas vezes para o efeito. Tudo normal. Bebi e bem água nos postos de abastecimentos, no de sólidos até ganhei novas forças e corria sem problemas de maior. Vindo de trás aparece-me o Luis Almeida mais um amigo e, como aconteceu, o ano passado iríamos acabar a prova juntos.

Sempre à procura do famoso V, os km's passavam e nada de o ver, até que enfim ali estava ele. É uma subida curta mas difícil. Parando aqui e ali, mas sempre incentivado pelo Luís lá o subi.

Pouco depois havia uma descida com pedra solta, faltava um km para terminar a prova, e foi aí que tudo aconteceu. Comecei a ter espasmos musculares. Felizmente estavam ali elementos da Cruz Vermelha que me socorreram. Sentei-me. Para além dos espasmos, cãibras nos dedos dos pés, dores fortíssimas nas canelas, o Luís ali a meu lado tentando que eu fosse com ele acabar o último Km (amigo Jorge Branco é sempre o km mais difícil da vida). Disse-lhe que já não aguentava mais e... de repente... "apaguei-me".

Quando abri os olhos (disseram-me que nunca os fechei e foi por breves segundos) só via rostos difusos e sem saber onde estava. Tinha vagueado por muitos locais enquanto desmaiado e nenhum deles era aquele. Estava confuso. Onde estaria?

Aos poucos fui-me apercebendo da realidade mas pouco mais me lembro do que saber que a Cruz Vermelha me tinha deitado numa padiola, descido aquela pedraria toda e levado para a OTA. Já na ambulância comecei a vomitar o que aconteceu durante mais de 4 horas. O que o estômago já não dava, dava a água que o corpo continha e entrei em desidratação.

Estava dentro da ambulância na OTA mas apercebi-me que outro companheiro teria que ir para o Hospital. Disse à Cruz Vermelha para me retirar de lá para que esse meu companheiro tivesse transporte e fiquei num sofá no café da prova, pensando que tudo seria uma questão de tempo e que recuperaria.

Assim não aconteceu e tive que ir também para o Hospital de Vila Franca saindo de lá às 23:15' depois de vários sacos de soro e outras "mistelas" para debelar os vómitos, as cãibras dos dedos e os espasmos musculares.

Cheguei ao fim de mais uma etapa. Talvez seja da idade, talvez seja da falta de descanso de quem trabalha por turnos, talvez seja de tudo e de nada.

Vou procurar voltar à estrada assim que os rins me permitirem. Provas pequenas, só para o convívio. Matar o bichinho que há em mim depois de ter corrido no Benfica de Luanda e desde 1990 em Portugal.

Já nada será como dantes pois tenho consciência que tudo tem um fim e eu quero muito ver os meus netos crescerem com o avô ao lado deles.

Os meus agradecimentos são sem dúvida os maiores para o Luís Almeida. Foi de uma camaradagem incrível nunca tendo saído do meu lado (que nunca por vencido te conheças), ao pessoal da Cruz Vermelha por tudo o que fizeram por mim, foram excecionais embora me dissessem que não faziam mais que o dever deles. Ao Alexandre Beijinha e à sua preocupação pelo meu estar, ao pessoal do Hospital de Vila Franca de Xira (médicos e enfermeiros, inicialmente tive uma impressão negativa pois estive muito tempo sem soro) foram inexcedíveis.

Ao amigo Pára Joaquim Adelino e ao Daniel por me terem levado o carro para o Hospital e pela preocupação constante pela minha saúde. Para os meus familiares (filha, genro e a minha mulher) que se deslocaram a Vila Franca e aos meus filhos Mário e Renato Lima, que sem saberem a hora da minha saída e por uma coincidência incrível estavam lá na altura que eu chegava ao meu carro para me vir embora (se isto não é a voz do sangue então não sei o que isso será).

Para os que me telefonaram para o Hospital os meus agradecimentos. Fui proibido de atender as chamadas constantes que me estavama a chegar. Tive que desligar o tlm.

Obrigado a todos, obrigado por tantos anos de corrida em vossa companhia.

Um dia a gente volta a ver-se por aí.

Abraços!