Aqui, à minha frente, tenho um chapéu. Um chapéu como tantos outros mas um chapéu com história.
1975, a revolução já se tinha dado em Portugal. Em Tando-Zinze, Cabinda, junto ao Mayombe, uma companhia fazia ali o seu poiso. Às notícias vindas do “puto” respondíamos com a continuação das patrulhas pelos trilhos abertos naquela floresta, naquele mar vegetal.
Os interesses partidários engendrados à socapa em Portugal começaram a fazer-se sentir nas províncias ditas ultramarinas.
O apoio dado a um só movimento em Angola pelas altas esferas dominantes pós 25 de Abril, fez com que os nossos quartéis começassem a ser entregues a esse movimento.
Uma delegação do MPLA é recebida no nosso quartel. Nós, os furriéis, aguardávamos serenamente na nossa messe, o resultado das conversações que estavam a decorrer dentro do gabinete do nosso capitão.
Alguns elementos do MPLA dirigiram-se para a nossa messe. Queriam beber algo fresco.
À primeira reacção de cautela da nossa parte, logo o ambiente se tornou amigável e então olho para um dos que ali estava. Ele sentindo o meu olhar, olhou-me também fixamente e houve da nossa parte algo indescritível, demos um grande abraço para surpresa de todos, os “inimigos” estavam abraçados!
E ficaram a saber toda a história, tínhamos trabalhado na mesma empresa em Luanda, exactamente nas oficinas da União Comercial de Automóveis no Bairro da Boavista.
Soube, contado por ele, que a Pide/DGS andava à sua procura para o prender. Assim optou por fugir e foi para as FAPLA.
Olhei para este amigo e agradeci aos deuses o facto de nunca o ter encontrado no campo de batalha frente-a-frente. Um dos dois teria morrido nessa altura.
Na hora da despedida ele ofereceu-me o seu chapéu, hoje, 34 anos passados, ainda o tenho guardado.
Obrigado amigo, estejas onde estiveres!
6 comentários:
Olá amigo
espero que dia 1 o "chapéu" sejá talismã.
Abraço,
António
Amigo Mário,
Chapéu que tem a minha idade.
Inimigos tornam-se amigos, generoso em lhe oferecer uma recordação.
Dia um, a dupla regressará 34anos atrás!!!
Forte abraço
Fez-me lembrar que, em certas tribos, costumavam trocar objectos pessoais de forma a assinalar um encontro ou uma visita. Neste caso foi quase uma passagem de testemunho! Um chapéu cheio de história! Um abraço e um bom restabelecimento.
Olá, Mário.
Eu diria que neste caso um chapéu vale mais que mil palavras, e além das recordações que lhe trás acredito que o sentimento de o ter consigo é ainda maior.
Um grande Abraço.
Grande Mário,
Mais um desfio que se aproxima, uma Ultra que tenho a certeza que com mais ou menos dificuldade irá ser superada, não tenho dúvidas, aqui fica o meu desejo de uma boa prova e o meu abraço!
Amigo Mário Lima,
Parabéns pela conclusão da Ultra!!!
Sinto um enorme prazer em tê-lo conhecido; é uma pessoa de enorme coração
Rogério Cerqueira
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