Paro aos 28,5 km (Comporta - 5h13'22''), dão-me duas garrafas de meio litro de água cada. Retiro o camelback, encho o depósito e coloco lá o concentrado que trazia no cinto. Depois de referir a dor que tinha vão buscar o "spray" e soube bem o fresquinho ali. Mas havia um elemento da organização que sabia um pouco mais e tentou ajudar-me fazendo com que a coluna ficasse melhor do que estava. Agradeci e lá segui.
Aos 30 km como a terceira e a quarta banana. Estavam tão maduras que só metade eram comestíveis. Tenho que rever a colocação delas no camelback. Entretanto os dedos das mãos começaram a inchar (mais vale uma mão inchada que uma enxada na mão).
Entre os 20 km e perto dos 34 km fartei-me de andar. Não conseguia correr. Muitas praias semi-desertas dedicadas ao naturismo. A água do mar límpida. O pessoal das moto-quatro sempre preocupado connosco. Passavam, levantavam o polegar para saber se estava tudo bem e lá seguiam. Olhava para trás e verificava que ainda vinham mais corredores atrás de mim, não era o último. Mas o lugar não me importava, tinha que acabar a prova.
A maré ia enchendo obrigando-me a ir de novo para a areia solta. E tomei a decisão, iria fazer o resto do percurso descalço. Seriam cerca de 9 km mas foi a melhor opção, passei a correr de novo. No controlo dos 37,5 km (SolTróia - 6h58'03'') disseram-me que podia deixar lá os ténis que depois me davam na meta. Fiz como Vercingétorix, chefe arverno, que resistiu a Júlio César. Depois da rendição entregou as armas menos o cavalo, que considerava como fazendo parte do seu próprio corpo. Os ténis tinham sido o meu “cavalo”, iria levá-los na mão até ao fim.
Aos 30 km como mais um cubo de marmelada (só comi isto e duas tabletes de hidratos de carbono, GEL nem um tomei.) O importante foi a limonada. Bebi sempre, não tive problemas de sede.
O pessoal que estava na praia ia batendo palmas à minha passagem. Dois garotos correram um pouco a meu lado, dei-lhes duas barras energéticas e ficaram todos contentes. Ouvia: «Vem aí mais um». Era eu todo orgulhoso por ter o carinho daquele pessoal. O Eduardo Santos, do "Mundo da Corrida", sentado debaixo do guarda-sol, de geleira ao lado (o que teria lá dentro?), lá me tirou uma série de fotos.
Vejo a placa dos 40 km. Um sujeito que estava como a mãe lhe tinha colocado ao mundo, disse-me: «Depois daquela curva está a meta». Curva dada, vejo o insuflável lá ao fundo. A água do camelback tinha acabado, mesmo no fim da odisseia. Mais uma corrida agora pela areia solta, ouço a Isabel Almeida a chamar pelo meu nome (obrigado mais uma vez Isabel, a tua voz tem sido uma constante nos terminares das provas). Atiro-lhe os ténis e atravesso a linha da Meta...
... A Umbelina olha para o meu gesto e pergunta-me: «Esse é o chapéu que falas no teu tema?». É! Tinha cumprido o prometido. Os meus camaradas de armas tiveram a sua homenagem.
Fui até à zona das massagens para ser massajado nas costas que me doíam, como companhia o Luís Parro que me apresentou a esposa, uma vizinha da minha Póvoa, moradora nas Caxinas, e os sobrinhos de t-shirt personalizada, mandadas fazer pelo próprio Parro, da ULTRA de 2008. Fui entrevistado pela TV, um bate-papo com o Carlos Coelho (estás um verdadeiro ULTRA) e o Carlos Fonseca. Juntei-me a seguir às famílias Almeida, Veloso e Mota (espectacular prova Luís - 7º da Geral e 3º no escalão).
Um banho retemperador nas águas cálidas de Tróia, um apanhar de novo o barco e um regresso a casa. Cansado, dorido, mas podendo afirmar, sou um DURO, sou um ULTRA. Venci os 43 km da Ultra Maratona na areia.
Parabéns a todos os meus companheiros que acabaram, aos que desistiram uma palavra de ânimo. Há é que se prepararem bem pois a prova é muito dura (todos afirmaram que esta foi a prova mais dura de todas as edições).
Parabéns à Organização, ao Presidente (que empolgamento nas palavras quando foi entrevistado) e ao responsável do pelouro do Desporto da C.M.de Grândola. Esteve tudo impecável (excepto a ausência dos referidos caixotes de lixo).
Os meus agradecimentos ao companheiro da organização que, aos 28,5 km, tentou colocar a minha coluna nos "eixos", tendo-me, para isso, levantado do chão. Á menina que aos 37,5 km muito insistiu para que deixasse lá os ténis, aos companheiros das moto quatro que procuravam saber se estava tudo bem comigo durante o percurso, ao que recolheu as garrafas do areal e levou mais um saco meu de lixo, ao massagista que na parte final tudo fez para debelar a maldita dor no ombro (no dia seguinte já nada me doía) e a todos anónimos que durante o percurso me ajudaram com os incentivos e palmas.
À minha querida Póvoa de Varzim que a levei na minha t-shirt.
A todos devo, o ter terminado esta minha 1ª ULTRA MARATONA.
Pró ano há mais!
7 comentários:
Olá Mário!
Depois do esforço ainda terminou com o característico sorriso.
Coragem em levar consigo o “cavalo” até ao fim, a revelar a grande determinação com que encarou a prova.
Foi um dia que nos orgulhou a todos.
Grande abraço,
Luís mota
Olá Mário,
Gostei muito da foto e do novo "aspecto" do blogue, mesmo após um esforço herculeano consegue sorrir para a objectiva:-))
Não tenho bem a certeza, mas "A Bola" está a anunciar que na SPORT TV2 às 22: 45 irá dar uma reportagem acerca da Ultra UMA.
Abraço!
Grande Mário, mais uma grande prova superada, deve ter sido uma sensação espectacular, as tua chegada à meta e esta é mesmo só para os ultras. Felizmente que tudo te correu bem a nível físico. Desejo-te as maiores felicidades para os futuros desafios. Um abraço.
"um DURO, sou um ULTRA. Venci os 43 km da Ultra Maratona na areia."
Grande Mário Lima, foi com um grande peso nos ombros que partiu de Melides...Esse peso ajudou a empurrar até á Meta. Tenho a certeza que o meu amigo, TITÓ, estava lá a empurrar e ajudar...
Um Grande Abraço
Temos Raider, em 2011 vamos lá para GANHAR!!!!!
Olá Mário, eu sei que foi a grande força de vontade e a responsabilidade que lavavas à cabéça que te ajudaram a superar aquilo, ainda por cima num ano muito difícil onde a Maré nem chegou a descer.
Fiquei com pena de não ficar para aquele convívio final mas eu estava "morto" e depois do duche só tive forças para virar para o Barco.
Abraço, voltaremos a ver-nos no Avamte.
Abraço.
Bravo, Mário.
Um relato cheio de emoção que conta bem o sentido que deste a esta Prova, que foi pensada ao pormonor.
Não foi fácil, já o sabias, mas é isso que dá à conquista um valor maior.
Parabéns, Mário e em 2011, lá estaremos.
Grande Abraço.
FA
Parabéns Mário por ter terminado a UMA e ser um ULTRA, pelo relato não deve ter sido fácil.
Já reparei que a foto do Mural foi alterada..hehehe
Abraço e nos vemos por ai correndo numa estrada ou trilho de Portugal e arredores.
JBrito
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