5.4.11

O Último dos “Trailianos”

Música: Armik - Lovers in Madrid


Alguma vez tinha que ser, fui o último deste II Trilhos de Almourol. Mas valeu a pena ser o último. Levei a minha máquina e fui tirando fotos pelo caminho. Parei aqui e ali. Aguardei que o vento amainasse para tirar uma foto a uma simples flor.

Vi maravilhas, a bateira 'Abringel' ali esquecida…

Foto: Mário Lima

Atravessei a ponte que a "Escola Prática de Engenharia" tinha colocado sobre o Rio Zêzere...

Foto: Mário Lima

Passei por baixo de árvores, subi pedras, desci por cordas, caí duas vezes, atravessei riachos de água cristalina e aos 21 km encostei. Ia desistir! Tinha acabado de subir uma serra, aos 18 km, com mais de 40% de inclinação e estava estourado.

Foto: Henrique Narcíso

Iria desistir num sítio bonito, do outro lado Constância piscava-me o olho. Ali 12 dos meus companheiros ficaram. Tinham, como eu, chegado ao limite das suas forças.

Foto: Mário Lima

Mas alguém falou em Almourol. Quantos km’s até lá? Uns 5/6km. Vou ver o Castelo. Esqueci-me do corpo já cansado e percorri mais serras, mais trilhos e vi Almourol. O Castelo tinha-me vencido. Por ele valia a pena ter ido até lá. Lindo, no meio do Tejo a nossa Bandeira desfraldava lá em cima no mastro. Sou Português aqui, agora e sempre!

Foto: Mário Lima

Mas ainda faltavam cerca de 13 km para chegar. Olhei para os meus companheiros que quase desde o início faziam o mesmo que eu, tiravam fotografias. Decidi continuar...

E o Arrepiado do outro lado.

Foto: Mário Lima

Muitas vezes só, mais pedras, mais musgo, mais uma subida: - «Olá Delta da Lebre. Não me venceste da outra vez também não me vais vencer desta». Cerrei os dentes e subi aquelas pedras rolantes. Já nessa altura era o último. A meu lado, pela primeira vez na minha vida, ia o «vassoura».

O discernimento na parte final não era muito, o cansaço não me deixava pensar e quando tinha ultrapassado um companheiro (Ricardo Nishizaki) enganei-me no caminho. Estava tudo bem marcado, mas não vi. E continuei com o meu “sombra”. Corri, andei, estourado voltei a correr para chegar dentro do tempo limite. Sempre incentivado fui chegando ao fim. Conforme ia passando, os que estavam na organização iam arrumando o que tinham para arrumar... E ladeado pelo meu «vassoura» e por um outro elemento da CLAC terminei.

Foto: Joaquim Adelino

Para ti Brito, para ti Otília, para vós CLAC o meu muito Obrigado pelo vosso bem receber. Estiveram excecionais!

A ti amigo Joaquim, com desejos de rápidas melhoras, ofereço esta minha prova, fui o primeiro dos último, mas muitos ficaram pelo caminho.

“Desistir é a última das opções”, eu não desisti, mas não voltarei a correr Almourol. Ficarei com estas maravilhosas imagens gravadas dentro de mim. Comecei muito tarde, tivera eu conhecido isto mais cedo e outro “Comando” cantaria.

Almourol, até sempre!

Fotos do Vídeo:

Mário Lima
Joaquim Adelino
José Brito
Fernando Cerdeira

Classificação e outras Fotos:

Os Trilhos de Almourol

Acabaram 185, desistiram 15

10 comentários:

BritoRunner disse...

Olá Mário

Simples mas muito belo esse texto. Fiquei contente por teres chegado ao fim e por teres visto as paisagens e trilhos que preparei na companhia de muitos amigos. Espero poder partilhar contigo mais momentos mágicos e se não for no Almourol que seja no "Almourolinho".

Abraço Trailiano, já que não fui comando

.JOSÉ LOPES disse...

Olá Mário

VALEU A PENA
Para nos trazeres fotos de sitios que de outra forma nunca seriam vistos.

A competição o lugar na classificação isso é que menos importa.

Qualquer dia hei-de experimentar esse tipo de provas ( versão curta) se aguentar, também como trailturista.

com os cumps
J.Lopes

António Almeida disse...

Companheiro
o teu último lugar deixou-me bem feliz, é que antes de sair do Entroncamento disseram-me que tinhas desistido em Almourol, afinal mostraste que desistir não era opção.
Quanto a não correres mais Almourol temos sempre a mini e dar uma de trailturista (direitos de autor do Lopes), foi o que eu fiz este ano e foi bem engraçado.
Pena que quase não falámos, fica para Constância.
Grande abraço.

João António Melo disse...

Na realidade amigo Mário, a foto da canoa está espetacular. Valeu bem a pena,pois ficaste enriquecido pela beleza das paisagens e também pelo convívio com os camaradas de luta (luta camarada...pá...;). Com certeza voltarás a este e a outros trails! Um abraço!

Jorge Branco disse...

Assim não vale!
Sem a minha presença é muito fácil chegar em último!
Pena eu não ter ido que a luta pelo último lugar ia ser bem mais interessante!
Magníficas fotos e belo texto!
Como eu sempre digo: mais vale ser o último dos presentes que o primeiro dos ausentes.
Infelizmente fui ausente mesmo mas quem sabe o que o destino me reserva para o ano.
Grande abraço.

joaquim adelino disse...

Grande Mário, que grande força de vontade, eu já desesperava no Entroncamento com a tua ausência, pois o bom do Carlos tinha-me dito que tinhas pifado. Afinal tive a grande satisfação de te ver chegar, e ainda bem pois assim mereci de ti e face ao teu grande esforço a dedicatória por esta tua vitória. O fim da linha ainda não chegou, bem sabes que quero voltar e existem aí umas contas a ajustar com algumas provas e tu fazes parte dos meus planos para me acompanhares, se eu puder, bem entendido, e Almourol não é como dizes um adeus definitivo, para mim é um até amanhã e para ti será um voltar com redobrada paixão por uma prova que tem tudo para nos satisfazer em pleno.
Abraço

mariolima52 disse...

Obrigado a todos pelos comentários. Foi muito difícil a prova para mim porque não faço treinos específicos para ela. Como o Brito o diz nos Regulamentos:

É uma prova dirigida a atletas experimentados.

Ora eu sou um aprendiz de trilhos, nada tenho a ver com os verdadeiros "Trailianos" que tanto correm 40 km em Almourol como mais de 100 nas Rondas, Méridas etc,.

Foi duro para mim acabar os últimos 18 km mas quando vejo as minhas fotos dou-me a dizer a mim próprio que valeu a pena.

Foi uma prova que teve de tudo e isso vale bem o sacrifício. Foi uma maravilha!

Penso que após isto, melhor será impossível e como aconteceu em Sicó não quero que o sonho "morra".

Como dizia o Torres: "Deixem-me sonhar!".

:)

Obrigado!

Vitor disse...

Olá Mário,
Bonitas fotos, temos que nos orgulhar do nosso comando.
Terminas-te esta grandiosa prova é o mais importante, afinal és um DURO.
Boa recuperação, espero que esteja recuperado para domingo estarmos juntos novamente
Grande abraço
Vitor

Unknown disse...

Ola Mário

Conheço bem essa zona do pais.... ai tirei o meu curso de pára-quedista... tive pena não poder ir, mais a Pubalgia este ano, é a minha companheira nas corridas. Para bens pelo post.. magnifico.. até um lugar algures por ai

Leão Verde disse...

Olá mano,
mais uma excelente crónica ilustrada com magnificas fotos paisagisticas a enquadrar a tua tenacidade e a dos teus companheiros nesse duro percurso e naturalmente acompanhada por musica de fundo a condizer. Quanto a seres "finalmente" o ultimo até nesse pormenor levas-me vantagem pois há bastantes anos eu quis ser realmente o ultimo dos ultimos numa prova dos Estaleiros de Viana, estava super estourado de ter subido o monte de Santa Lusia e já na marginal com a chegada a uns 300 metros estourei, sentei-me e disse "vou querer ser o ultimo". Passaram os poucos ultimos e quando a ambulância estava a meu lado levantei-me e corri para a chegada "triunfal" ... ia ser o ultimo. Os ultimos incentivos do pessoal que estava a ver, sorrio, corto a meta, ergo os braços quase numa prece mas continuo a ouvir aplaudir e a incentivar. Olho para trás e nem queria acreditar pois resguardado pela ambulância estava a chegar o ultimo dos ultimos. Fiquei mais que frustrado pela situação pois nem ultimo consegui ser.
O importante nesta tua prova foi, mais uma vez, teres desfrutado, embora com algum sofrimento, do prazer do resultado desse sofrer. Chegaste, registaste para a posteridade os diversos momentos, conviveste e sorriste.

Abraço