A história muitas vezes repete-se. Pode ter algumas pequenas diferenças mas o essencial está lá. O ano passado tive a minha estreia nos trilhos em Terras de Sicó (30 km) e no domingo seguinte fazia 40 km em Almourol. Este ano foi o inverso, fiz 40 km (todos os GPS apontaram para mais de 40 km) em Almourol e no domingo seguinte eis-me a fazer 30 km no Vale de Barris. 70 Km feitos no espaço de uma semana, e para quem não treina especificamente para este tipo de prova, é obra. Mas vamos a esta prova organizada pela Associação de Atletismo “Lebres do Sado” sediada no Vale de Barris.
Sabemos como começamos mas nunca sabemos como acabamos. Depois de uma semana com um único treino encarei esta prova como mais uma em que o motivo principal era registar em fotos o percurso percorrido. Os trilhos, as serras e os meus companheiros de corrida (por causa disso dei um grande trambolhão e ainda por cima em pedra solta).
Se em Almourol, quando faltavam 6 km para finalizar, “arrumei” a máquina fotográfica para me concentrar unicamente em acabar a prova (6 km em trilhos é ‘muito’ km), aqui levei a máquina na mão até ao fim. Seria porque esta prova era mais “fácil” que Almourol? Não, não era, só que tinha menos 10 km e sendo mais curta, embora com grau de dificuldade elevado (para mim é quase tudo de dificuldade elevada ), acabei-a cansado, mas o corpo estava nos limites aceitáveis e nada de especial senti tanto a nível de joelhos como de músculos. O mesmo não tinha acontecido na prova do Domingo anterior.
Sendo 30 km em auto-suficiência (alguns esqueceram-se desse pormenor) requer cuidados especiais pelo menos a nível de líquidos pois o dia apresentou-se quente e sem água seria um problema. E tem outra caraterística, ninguém sabe com antecedência qual o percurso que se vai fazer e sabem porquê? É que graças ao "xico-espertismo" português há quem coloque em locais estratégicos abastecimentos e assim podem beneficiar do facto de nada levarem ficando mais “leves” relativamente a um adversário que levará camelback ou cinto guarnecido com garrafas de água e alimentos. Não sabendo por onde passarão, não há locais de abastecimento e partem todos em igualdade de circunstâncias.
Dada a partida, pouco depois logo uma subida em direção aos moinhos da Serra do Louro.
Foi em companhia da Estela Gonçalves e do Luís Miguel (o Tigre da Sibéria) que fiz grande parte da prova. Por três vezes tivemos que chamar companheiros que se encontravam perdidos. A Estela fez-se valer do apito e mesmo assim houve quem não aceitasse os nossos braços no ar pensando, diziam eles, que nós corredores estávamos a chamar por pessoal das BTT. Incrível. Estava bem marcado no terreno o traço a cal e mesmo assim foram por ali acima.
Quero realçar aqui a atitude da Estela junto à Serra de S. Luís. Ficamos ali um bocado às ”aranhas” pois não víamos fitas, uma adversária dela meteu-se por um trilho pensando que era o correto, a Estela viu a fita já na subida para a serra e chamou-a. Se calhar alguns deixariam de o fazer o que não foi o caso. No mesmo local e pelo estradão mais um grupo e numeroso iam no percurso errado. Lá gritámos mas desta vez acederam ao nosso chamamento e voltaram para trás. Depois foi o subir aquela serra.
Sempre a Estela à frente, seguida do Luís Miguel e eu a fechar o trio. Aquilo era pedras, pedregulhos, matagal que nos arranha pernas e braços (o melhor nestas circunstâncias é levantá-los, os braços claro!). São 395 metros de subida agreste. Não víamos uns aos outros, só gritávamos para saber se íamos no sítio certo. Fitas nem vê-las. Apareciam umas de trapo já desgastadas pelo tempo. Mas a Estela sempre à frente gritando: «É por aqui», o Luís passava palavra e eu avisava o pessoal 'perdido' que já vinha ali perto. Depois foi uma maravilha. Setúbal e a península de Tróia em frente dos nossos olhos. Fotos para a posteridade (ver vídeo), passagem pelo posto de vigia e o descer a serra.
Se em algum sítio foram as cordas que nos safaram de ir pela serra abaixo, noutras foi pura sorte. O companheiro que vinha atrás de mim escorregava constantemente e batia-me nas pernas, estava a ver que íamos os dois à “reboleta” tantas as vezes que tive que travar a sua queda. Depois da serra vencida, curiosamente… Fiquei só! A Estela para “fugir” à adversária foi-se embora, o Luís como tigre que preza ser, 'confundiu-se' com o verde e nunca mais o vi. Os que vinham atrás de mim devem ter ficado estourados com a descida e devem ter reduzido a corrida e eu para ali fui e foi aí que mais me custou a prova. Sem ninguém por perto fui subindo, fui descendo, procurando ver as fitas e não me enganar. Chego a um estradão. Uma fita aqui outra sei lá aonde depois fiquei sem saber se estava no caminho certo, e lembrei-me daquilo que a Dina Mota me disse em Alqueva: «Mário, quando não vires nenhuma fita é sempre em frente». E fui e encontrei alguém a quem perguntei se tinha visto corredores por ali e ele disse: «Está ali um senhor de bicicleta» E foi esse companheiro que me fez ver que estava no caminho certo e entrei em mais um trilho, ele não sabia quanto faltava para acabar, nem eu!
Vejo uma t-shirt vermelha lá no alto depois de uma casa abandonada. Tinha um companheiro à vista. Mas em trilhos tanto se tem à vista como depois não vemos ninguém. E continuei e desesperei, nunca mais via o fim daquilo. Mais subidas e eu com vontade de ficar sentado à beira do caminho. Mais uma estrada e algo me dizia que já faltava pouco. De repente vejo o companheiro de vermelho, era o amigo Carlos Coelho. Mais à frente o Joaquim Adelino tirava-nos uma foto (fazes falta companheiro é junto a nós, mas tens jeito para fotógrafo).
Depois foi o terminar de mais uma aventura por serras e vales.
Classificação Geral
Outras Fotos:
Jaime Mota
Abastecimentos utilizados:
- 1 litro de 'Limonada' caseira (cheguei ao fim ainda com líquido)
- Aos 13 km uma barra de chocolate "Mars"
- Aos 23 km uma banana e nada mais.
7 comentários:
Bonito relato amigo Mário, e dizes tu que tens de "cortar" algumas das que te parecem mais difíceis, pois bem e depois quem é que as relatava? É como eu, se voltar a correr quem é que faz as reportagens? O melhor é estarmos sossegados com as previsões do futuro e tudo fazer para a nossa presença seja sempre um facto porque sabemos que este tipo de provas já não passa sem a nossa presença.
Abraço.
Grande Mário, sempre uma festa estar contigo, belas fotos.
Este Vale de Barris é mesmo de presença obrigatória.
Abraço,
António Almeida
Mário,
De facto teve menos 10km que em Almourol mas a dureza esteve bem patente.
estiveste muito bem e venceste mais uma prova, se não fores tu a tirar fotos durante o percurso ninguém ficara a saber por onde nós passamos.
Na questão auto-suficiência, muitos ainda não percebem muito bem isso e outros armam-se em "xico-espertismo", batotice.
No posto de vigia da Serra de S. Luís de facto tem uma vista maravilhosa, o melhor destas provas e que passamos por locais encantadores.
Prazer partilhar contigo no convívio final.
Grande abraço
Amigo Mário!
Bela jornada de uma prova que deve ser espectacular.
Uma boa semana para si e até Constância,
Luís Mota
Boa tarde Mário
"Aos trambolhões" e "às aranhas" foram concluídos mais 30 km de grande dificuldade a acrescentar os 40 km da semana passada, estás em boa condição física.
Continuação de muitos trails
com os cumps
J.Lopes
Grande Mário! Passe a brincadeira até me apetecia dizer Super Mário (a lembrar aquele jogo das antigas consolas)
Parabéns!
Beijinhos
Amigo Mário
se conheço bem esses trilhos que menciona e que nos dão cabo do "canastro", cada vez que rumamos direito à Serra do Louro.
Brevemente quando o terreno permitir vamos subir ao posto de vigia....
Abraço
Mário João
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