17.8.11

TNLO - Uma Maravilha

Tudo pronto, camelback com a 'limonada' e frontal, e sigo, com o Vítor Veloso, em direção a Óbidos. Iria correr, pela 1ª vez, um Trail Noturno.

Tinha lido temas dos anos anteriores e pelo auscultado de quem a tinha feito não seria uma prova difícil, o pior estaria reservado para quem iria fazer os 47 km do Ultra Trail. Quando sabemos que não podemos exigir do corpo mais do que este nos pode dar, o melhor é mesmo não abusar e foi o que fiz, 25 km e chega.

A concentração fez-se no recinto designado 'Jogo da Bola' no interior das muralhas.

Com o casal Artur e Estela Gonçalves. Joaquim, Vítor e Melo. Foto: Paulo Pires

Depois dos conselhos habituais (que muitos não prestam atenção) e que me serviram na perfeição para me orientar de noite sem uma única vez me perder, seguimos em corrida até à porta principal de Óbidos local onde seria dada a partida para a UTNLO e TNLO.

Foto: Jorge Serrazina(?)

Frontais ligados e foi uma maravilha. Ora juntas, ora separadas, as luzes eram autênticos pirilampos no escuro da noite. Pena foi que o céu encoberto e uma chuva miudinha tivesse caído durante toda a prova, seria lindo ver a lua cheia refletida na lagoa de Óbidos. Seria a cereja no topo do bolo!

Os 'pirilampos' e o castelo. Foto: Fernando Almeida

Começo com o Joaquim Adelino e o Fernando Silva dos “Amigos Vale Silêncio”, até à subida de uma grande escadaria. A pouco e pouco deixo de os ver (há que aprender a lição, neste tipo de terrenos não podemos olhar muitas vezes para trás, o terreno é desnivelado, com pedra solta, raízes e sem grandes locais para apoio, sujeitos a irmos de ‘carrinho’ ou apanhar um grande trambolhão. A distração é a ‘morte’ do artista, todo cuidado é pouco, mais vale chamar que olhar). De seguida uma subida íngreme que tivemos que a subir agarrando nos arbustos e raízes, local onde se juntaram vários corredores pois só era possível a passagem de um atleta de cada vez (nessa altura olhei para trás e era impressionante a quantidade de frontais que via) e, de seguida, o 1º abastecimento de líquidos.

A subida. Foto: Fernando Almeida

Sigo com o casal Estela e Artur, é sempre bom estar acompanhado pois sozinho é complicado e mais facilmente se perde. Fico abismado quando vejo a placa dos 10 km. Pensava ter deixado há muito os 10 km para trás e eis que ali estava ‘sorrindo’ no escuro. Olho para o relógio 1h13’ de corrida. Tanto tempo para tão poucos km’s. Deixei de ver o casal e sigo sempre de forma a não perder o que estavam à minha frente de vista. Passamos a Lagoa, pontes de madeira, estradões e a chuva sempre a cair. Vou perguntando quando é que se faz a separação das duas provas, ninguém sabia pois o trajeto tinha sido alterado do ano anterior. Pensei para comigo que ainda ia fazer os 47 km sem querer.

Mas isso não aconteceu, perto dos 14 km (?) faz-se a separação. Uma travessia rápida em asfalto, entro de novo no trilho e ouço uma voz conhecida: “Mário”. Olho e vejo a grande amiga Otília. Juntos subimos e descemos, nos momentos de maior cansaço andamos. Em declives mais ‘polidos’, a voz da experiência dizia para irmos pelas folhas e não por ali. Aos 17 km vejo dois companheiros da ‘Fundação VCS’ (Fernando e André). Fiquei admirado de já os ver ali, tinham corrido em bom ritmo mas as forças faltaram-lhes e a custo acabaram.

Avistámos o Castelo: "Vamos Otília já falta pouco!" E aceleramos nas descidas e andamos nas subidas e o Castelo sempre longe. Ouvia-se uma buzina em alta berraria, era a Dina Tartaruga. É sempre bom ver um rosto conhecido e as últimas indicações: “É só subir por ali e está acabado”. Começa a subida pela parte oeste das muralhas. Vou agarrando as cordas para melhor subir. A Otília, à minha frente, avança decidida, ouvimos uma voz vinda do escuro: “Falta pouco, agora é acabar em beleza” e a beleza era o último esforço. Passamos a porta da traição em corrida e o abraço final.

Foto: Paula Fonseca

Tínhamos terminado, tínhamos feito o assalto ao Castelo e em vez de archeiros encontramos bons amigos. Uma mesa repleta de iguarias, uma sopa que caiu que nem a ginja de Óbidos, um chá quentinho. O arroz doce, feito pela Leonor, esposa do Orlando Duarte (promessa de anos), estava divinal. Obrigado e conta muitos Orlando!

Um banho retemperador e de novo até ao Castelo aguardar o Vítor que estava a fazer os 47 km. Fui até às ameias onde se encontrava a família Almeida. Ali via, ao longe, no escuro, as luzinhas de quem ainda vinha a caminho. Os corredores, quase sempre isolados ou a dois, iam chegando.

Tinha acabado com a Otília e enquanto ela esperava o marido, o Brito, eu aguardava o Vítor e chegaram os dois juntos. Coincidência do destino!

Dei os Parabéns ao Serrazina pela belíssima prova e ele, como não quer a coisa, a convidar-me para o próximo ano fazer a Ultra. Obrigado Serrazina, prefiro fazer 25 km sabendo que podia fazer mais 5 do que fazer 47 km de rastos. Foi melhor assim, quem correu o que teve para correr a mais não é obrigado! O meu tempo já passou!

Parabéns a toda a Organização. Foi perfeita, assim vale a pena correr!

Adenda

  • Comi às 19h30' um pão misto e bebi um Compal.



  • Embora tenha levado marmelada e um gel não os tomei.



  • A 'limonada' - foi ótimo ter levado, soube bem ir bebendo pois a noite estava abafada.



  • A t-shirt técnica de manga comprida é de levar, evita o contacto dos braços com a ramagem e protege o corpo em alturas que o fresco da noite mais se fez sentir.



  • Classificação:

    143º da Geral (acabaram 181) com o tempo final de: 3h02'51''


    11 comentários:

    JoaoLima disse...

    Parabéns por mais esta, amigo Mário

    Fernando Andrade. disse...

    Parabéns,Mário.
    Afinal isso foi "canja".
    Grande Abraço.
    Fernando Andrade

    Unknown disse...

    Mário

    Os meus parabéns....

    Leão Verde disse...

    Pronto mano, foi mais uma para o bornal do curriculum de provas feitas. Mais uma experiência, mais uma chegada em beleza como referes pois o importante foi teres chegado bem, embora por vezes se possa dizer ..." não me meto em mais outra como esta "... (independentemente de qual seja a prova) mas a ter-se esse pensamento será apenas "desabafo" pois já se sabe que no ano seguinte estar-se-á nela, até para suprimir alguma da inexperiência que poderá ter existido na primeira. E também não podias "forçar" muito pois daí a menos de 48 horas estavas para "nascer" :)). Parabens pela conclusão e que venha a próxima. Abraço.

    ana paula pinto disse...

    Parabéns! Parece que fez anos há pouco tempo. Embora atrasado vai um beijinho grande e votos de felicidades.
    Parabéns também pelas provas. Está em grande forma!

    Amigos Vale Silencio disse...

    Srº Mário tive o prazer da sua companhia e dos seus conselhos(antes da partida)que se mostraram óptimos e a prova e os seus promotores estão de parabéns porque a dureza é quanto baste e a beleza de correr a noite é enorme.
    Só falta da próxima no inicio da subida para o castelo receber cada atleta uma espada para o assalto final...que acha?

    Vitor disse...

    Grande Mário,
    Estiveste brilhantemente bem na tua estreia num Trail Noturno. Parabéns pela tua prova, e obrig teres ficado mais de 2h a séca a minha espera!!
    Grande abraço
    VV

    joaquim adelino disse...

    Olá Mário, parece que fizeste anos, olha passou-me ao lado mas acho que ainda vai a tempo a minha saudação pelo feito. Sobre a prova quero agradecer-te o apoio inicial que me deste até recolar novamente aos meus amigos do Vale do Silêncio. Depois, bem depois aquilo endureceu de tal maneira que tive de arranjar um "artimanha" para os deixar ir embora, a cartucheira ,claro, mas depois tentei recolar e já não consegui. Aquilo era andamento a mais para mim. Desta vez nunca te sentiste "ameaçado", depois, também ias em boa companhia e segundo me parece chegaste muito bem conservado.
    Parabéns e eu vou voltar já em Vale de Barris. Abraço.

    João António Melo disse...

    Olá Mário, mais uma bela corrida, desta vez à noite. Ler os teus artigos e o modo como contas as peripécias da corrida levam-nos também a "percorrer" (pelo menos imaginamos) todo o percurso da prova, sem nos cansarmos...rs...Um abraço e boas corridas.

    tenis nike disse...

    Fantastico guerreiro, parabens, é isto mesmo, nao podemos parar.

    Egas Branco disse...

    Parabéns Mário! E gostei do relato pena de não poder estar presente.
    Abraço