Senta-se na 1ª fila. Atrás e aos lados, ninguém. Só ele e o palco. Toca o gongo. Vai iniciar o filme.
Abrem-se as cortinas, as primeiras imagens são projetadas. Ao contrário de "A Rosa Púrpura do Cairo" não sai o herói da tela, mas é o espetador que ali está, que entra no écran. Ele é o próprio filme.
A temperatura está alta. Nada convidativa para fazer um grande treino, mas tem que ser; agora ou nunca. Ontem, no prólogo, ele fizera o contrário daquilo que estava previsto, eram 5 fez 10 km. Hoje eram 12, seriam 20.
As cigarras estavam silenciosas mas foi sol de pouca dura. Parecia que estavam à espera dele para cantarem todas ao mesmo tempo. Devem-se ter enganado nas feromonas ou as cigarras de hoje já não são esquisitas. Marcha tudo o que mexe. Mudança dos tempos.
5, 10,12 km a bom ritmo. Uma paragem aqui e ali para encher os "depósitos" de água. Depois foi o sacrifício. Lembrou-se do grito da tribo Bantu que aprendeu nos Comandos «Mama Sumae» (estamos prontos para o sacrifício) mas verdade seja dita que naquele momento não se sentiu nada um guerreiro bantu. Mas quando um pé se recusava a avançar o outro seguia em frente e que remédio tinha o primeiro senão acompanhar o segundo.
Já o corpo não reagia mas avançava sempre. Pensa desistir aos 15, aos 16, aos 18 e acabou por "desistir" aos vinte.
Tinha realizado o pretendido.
Senta-se cansado, esgotado, ainda faltava um km até chegar a casa.
Levanta-se e segue. As cortinas fecham e só se ouve o silêncio. Não há palmas para um filme onde só existe uma única personagem.
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