Continuação do tema anterior 36 Anos DepoisÓ mar eterno, mar eterno,
Que no tempo perduras,
Canta-te em “Odisseia” Homero,
Heróis de fantásticas aventuras.Poesia: "Mar Eterno" - Mário Lima - Nov.75Entrados na estrada, em sentido contrário havia uma prova de BTT, já enlameados, há um novo regresso aos trilhos, à lama e desta vez havia um pequeno ribeiro onde se aproveitou para se lavar os ténis. Mas não valia a pena, logo a seguir nova subida e mais lama.
Seguindo pelo estradão de novo, a seguir a uma curva vejo uma obra de Engenharia. A Escola Prática de Engenharia tinha colocado uma ponte sobre botes de forma a se poder atravessar o rio Nabão sem problemas.
Depois é um sobe e desce por terra e mato com lama, muita lama, com passagem por baixo da ponte ferroviária, em cima de cascalho, até Constância. Já nessa altura o
António Almeida (obrigado amigo pela tua companhia) se tinha ido embora. Camões, do outro lado do rio, deveria estar a escrever uma Ode a estes valentes que por tais trilhos se aventuraram. Depois de abastecido, novas subidas em terras pretas, amarelas, charcos e cada vez mais cansado. Uma pequena ponte de madeira faria inveja aos romanos.
Passo pelo apeadeiro do comboio de Almourol mas já na companhia do Paulo Paredes. Passagem pela Escola Prática de Engenharia e após uma subida penosa penso que foi aí que nos enganamos no percurso. Não vimos as fitas rentes ao solo, continuamos sempre em frente e de repente ouvimos uma voz vinda do arvoredo em baixo: «Vocês estão enganados, a descida é lá atrás. Voltamos e entramos no trilho certo. Pouco depois fomos alertados por alguém da organização com uma BTT, para o magnífico espectáculo que iríamos ver, o Castelo de Almourol. Confesso que permaneci ali algum tempo a olhar para aquele Castelo magnífico no meio das águas do Tejo. Soberbo!
Pouco depois a
Susana passou por nós. Ia ligeira e fiquei satisfeito de a ver. Felizmente tudo tinha corrido bem lá na barragem. Pensei em acompanhá-la mas o Pedro estava em dificuldades e como estávamos sós esperei que mais alguém se chegasse a nós e abalei. Descia, voltava a subir, poças, lama e nunca mais o acabar. Estava desesperado pois para além das pedras nos ténis, uma dor aguda alojou-se no ombro impedindo-me a locomoção normal pois só fazia movimentos com um braço. Depois de mais um abastecimento, mais uma maravilha, passar por um túnel que dava acesso ao outro lado da linha do comboio. Aí o segundo engano. Uma das moças disse para seguir, virar à esquerda e depois direita. Fui sempre em frente à espera de voltar à esquerda. Pensei que teria que voltar a passar a linha do comboio de novo, mas havia algo que estava mal. Pareceu-me ter visto algo a agitar ao vento no solo alguns bons metros atrás. Olho para trás e ao longe estava o pessoal frenético a agitar os braços como a dizer que estava enganado. Lá voltei e entrei mais uma vez no trilho. No cimo um canzarrão mostrou-me os dentes mal encarado. Mas já estava por tudo.
Confesso que estava há espera de encontrar a rampa “Delta da Lebre” os "Rolling Stones" conforme a defini, a tal dos seixos rolantes, sinal que estaria perto da meta. Vejo a Rosa e coloco-me ao lado dela. Sempre seria melhor em companhia. Mas a Rosa tem outra pedalada, enquanto eu subia com as mãos nas pernas ela subia com dificuldade mas na maior. Passávamos os dois num lamaçal, enfio os pés naquilo, que se lixe, já nada me importava. Atrás ouço a Rosa aflita, os ténis e pernas estavam atolados, ela disse-me, depois de lá sair, que aquilo pareciam areias movediças. Lá continuamos. Ela adiantou-se, olho para trás e quem vejo?! O
Pára que não para, não o fazia ali. Tentei adiantar-me mas as dores no ombro eram muitas e as das pernas não eram menores. Ao fazermos o acesso ao 33,5km onde estava o abastecimento, avisaram-nos que tínhamos que virar à direita, mas do lado esquerdo também haviam fitas e a Rosa com os “phones” nos ouvidos, não ouvindo a indicação, voltou à esquerda. Bem gritei por ela e ela nada, sempre em frente, afastando-se cada vez mais. Não tive outro remédio senão ir buscá-la. Não sei onde fui buscar energia para "sprintar" e trazê-la de volta ao caminho certo. O Joaquim ficou à nossa espera no abastecimento. Pergunto à Otília se os seixos que tínhamos passado anteriormente eram os tais, e ela disse-me que não, eram outros mais à frente. Na foto tenho um sorriso mas já não sabia se devia sorrir se chorar!
Depois foi um tormento até ao fim. A Rosa e o Joaquim foram-se, subi os seixos, desci, subi o trilho dos gatos, lama barrenta e nela vejo... uma perna de galinha! Deve ter havido uma noite de folia para os gatos das redondezas. Depois foi um caminhar junto à A1. Os carros em alta velocidade e eu em passo de caracol. Lavei os ténis na albufeira do Jardim do Bonito, mas logo a seguir mais um trilho, voltei a ficar cheio de lama, sempre incentivado pela Célia Azenha que tinha passado por mim, foi percorrendo os metros (kms?) que me faltavam, mas já não corria, andava com o braço junto ao corpo. As dores eram enormes, de repente ouço uma voz a chamar por mim, era a Isabel, esposa do António Almeida. Não era agora que iriam ver o meu sofrimento, arranquei e com o sorriso possível nos lábios, 5h43'24'' depois de iniciar a prova, cortei a Meta.
Para a organização da CLAC, nas pessoas do Brito e Otília, os meus Parabéns pela prova. A prova é dura, teve kms a mais, quase que jurei em não me meter noutra, mas penso no próximo ano lá voltar!
Irei colocar um último tema dedicado a esta prova. Mas será toda ela de fotos. Há muitas e ficarão aqui como registo de alguém, eu, que com sete dias de diferença, percorreu 70km por montes e vales, por lama e charcos, por pedras escorregadias, por rios, por vistas maravilhosas, mas essencialmente com os amigos; a família Almeida, a família Veloso, o Carlos Coelho, o Pedro Marinho, outros amigos e a equipa do Pára&Comando.