Levantei-me a custo. A coxa doía-me mas não podia ficar ali. Olhando para as fitas sigo caminho. Queria chegar a algum lado onde pudesse ser recolhido. Olho para a última árvore do trilho. Estava lá uma fita mas parecia que já lá estava há muito tempo pois encontrava-se colada à própria árvore. Olho em redor e não vejo mais fitas. Ao meu lado direito um caminho cheio de pedras e bem lá em baixo vi casas. À minha frente, arbustos. Não olhei para cima. Como estava a fita naquela árvore só podia ser… para baixo.
Comecei a descer e cada passada era um tormento, aquilo era só pedras. Queria chegar a todo o custo às casas que via lá em baixo. Mas algo me dizia que não o deveria fazer. Agarrava-me às pedras e a cada passo mil agulhas se cravavam na coxa. Resolvi de novo subir. Tinha que encontrar a saída pois aquela não era de certeza. Volto à árvore, lá estava a fita. Entro nos arbustos (lembrei-me de Almourol, mas lá estavam fitas e o Brito a seguir). Nada! Arrisquei de novo e voltei a descer.
O "Rio Homem"
O meu desespero era grande. Estava só e não havia meio de sair dali. Desço, desço e as casas sempre longe (mais tarde soube que só a nado conseguiria lá chegar). De repente vejo um caminho melhor do que aquele que vinha mas era a subir. Pela caruma aquele caminho já não era utilizado há muito tempo, era tempo do “Marius o Romano” fazer daquele caminho a sua Geira, tinha que voltar ao topo da serra. A salvação estava lá em cima, mas teria que subir muito. A dor incomodativa não me deixava pisar o chão como devia ser e a custo fui subindo, subindo, subindo! Fui enchendo o cantil nas nascentes que corriam da serra. Sinto restolhares, seriam lobos? Haveriam lobos na serra? Olho em volta e nada vejo que me possa valer. Pensei que se houvesse lobos seria o meu fim. Sempre olhando para o lado continuo subindo.
Nascente na serra
Paro por uns instantes e escrevo uma mensagem ao Pára: «Amigo Joaquim, caí, tenho uma rotura muscular e estou perdido na serra. Fala com o Moutinho para me virem buscar». Quando vou para enviar a mensagem vi que faltava ali algo, onde é que eu estava? Não o sabia, o Joaquim nunca a iria receber, não o quis preocupar, e assim resolvi encontrar sozinho a saída. Só em última instância enviaria um pedido de socorro.
De repente ouço o telemóvel a vibrar, era uma mensagem do amigo Vítor Veloso que perguntava onde é que eu estava. Amigo Veloso nem sabes o quanto feliz fiquei quando recebi a tua mensagem. Já andava há quase uma hora perdido na serra. Tinha o tlm em silêncio e ele bem tentou ligar para mim, assim, como não respondia, mandou a msg. Bendito telemóvel, tinha rede ali na serra. Liguei para o Vítor, e contei-lhe a minha situação, disse-me ele que já ia nos 35km. Pouco depois recebo outra msg dele com o nº de telemóvel do Moutinho.
O centurião Moutinho e o Imperador "Julius" Ribeiro
Eu ia sempre subindo e de repente ouço barulhos de carros. Tinha chegado à estrada. Uma ambulância passava naquela altura. Pus-me aos saltos, mas não me viram e seguiram. Ouço mais um motor, olho para trás e vejo outra ambulância. Mando parar e foi o pior que me podia ter acontecido. Tinha chegado ao Inferno!!!
(continua)
P.S. - Através das fotos do Nuno Alexandre já descobri onde tudo aconteceu, mas não sei que local era aquele (clicar para ampliar).
Aldeia que vi lá do alto e que tentei alcançá-la.
Afinal era subir e não descer como o fiz.
Já vi que tenho muito que aprender para não cair em erros grosseiros como este que podia ter-me custado muito caro.
9 comentários:
Amigo Mário,
Parece uma novela mexicana, afinal foi mesmo uma prova terrível a nível pessoal, felizmente o amigo Vitor lembrou-se de si e havia rede na serra. Estou ansioso a aguardo o resto do relato, se depois de tudo isto o pior está para vir "Tinha chegado ao Inferno" nem por sombras imagino o que terá acontecido!
Espero que esteja tudo bem consigo!
Abraço companheiro!
Cum caraças, Mário !!!!!!
Estou a seguir emotivamente esta aventura. Imagino-me a passar pelo que passaste em terras completamente desconhecidas e sozinho...e lesionado.
Venha o resto.
(Não percebo como é que não consigo pôr o link do teu blogue na minha barra lateral. Faço tudo igual e não dá. Nem o teu, nem o do Carlos Fonseca, nem o da RunPorto. De certeza que é azelhice minha, mas não consigo.É que isso permitia-me acompanhar mais os teus excelentes relatos).
Grande abraço.
FA
Olá Mário, cada vez lamento mais o que me aconteceu, acrescido agora com o drama que viveste, se, (este se Impossível)eu lá estivesse de certeza que te tinha encontrado antes da incerteza e de algum pânico que se apoderou de ti, felizmente até aqui estás a sair-te bem da aventura, espero que o que aí vem não me deixe mais preocupado e abatido, mas conta, conta a verdade, só assim eu ficarei mais tranquilo.
Até já
Abraço.
Possa Mário... também estou a seguir o seu relato, como disse o Fernando Andrade, emotivamente! Como é possível não aparecer ali ninguém para o ajudar numa situação daquelas... Não devia ter hexitado em pedir auxílio por sms ao meu pai ou a qualquer pessoa. Aguardo a continuação
Bom tarde Mário
Bem esta aventura apesar de todos os "acidentes" ao qual lamento, tem momentos emotivos para o leitor.
Espero que a recuperação demore pouco.
Aguardo ansiosamente pela 3ªa parte
com os cumps
J.lopes
Olá Mário,
Espero que o pior já tenha passado. E desejo rápidas melhoras. Gostava de vê-lo na Freita.
Quanto ao relato, não vá na “conversa” do Fernando. Assim é que a crónica está boa…
Venha de lá a 3ª e 4ª partes…
Um Abraço
Orlando Duarte
Olá Mário
O que lhe aconteceu é aquilo que eu mais temo! Perdermo-nos e ainda por cima com uma lesão grave faz com que mesmo uma pessoa experiente comece a ficar em pãnico e isso é o pior que nos pode acontecer. è por isso que se eu já faço provas de estrada com cautela estas de trilhos tenho sempre bastante cuidado, mas isso ás vezes não é o suficiente. Perderem-se e as lesões acontece até aos melhores e mais experientes atletas. Tenho muita pena de não ter esperado por si na ponte e também não me apercebi que tinha ficado sem o Bandarra, pois seguia a todo o gás para compensar o tempo que tinha perdido na subida, aquela parte dos trilhos conheçoa muito bem por isso desci tão depressa e á vontade.
Espero que recupere depressa e BEM que é o mais importante novas provas virão.
Vou continuar atenta á continuação da sua aventura que foi ainda a parte que correu pior. E que o deixou mais triste
E fico á espera da próxima prova em que possamos fazer alguma parte juntos, porque o Mário tem pedalada demais para mim.
Um grande abraço
Otília
Foi uma verdadeira aventura a de Marius nesta caminhada na Geira Romana, a deusa Fortuna não quis nada contigo e a Minerva estava presente mas também se perdera :) Coloco-me no teu lugar...em local estranho e lesionado...não é nada fácil. Espero o resto e desfecho desta tua aventura.
Amigo Mário,
Eu a tentar ligar-lhe parar saber como estavam a correr as coisas, e dá-me a terrível má noticia, que estava lesionado, perdido na serra e o Joaquim teria ficado pela partida. Fiquei desolado muito triste com a situação, como seguia acompanhado e ouvirem a conversa facultaram logo o numero do Moutinho para o poder resgatar.
Para o ano lá estaremos, para "Marius70" completar sua Geira.
Aguardo próximo capitulo, estou a seguir muito atentamente.
Grande abraço
Vitor Veloso
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