Durante os primeiros tempos de Frank Sinatra confesso que não gostava muito de o ouvir cantar. Os anos foram passando, Frank foi envelhecendo, a sua voz tornou-se mais poderosa e dei-me um dia a comprar um CD dele. Tinha aprendido a gostar de Sinatra.
Quando comecei a correr, pesava, para o meu 1,73 metros, uns míseros 62/63 kg. Um dia vi-me a ver as minhas fotos desse tempo. Era um “esqueleto” ambulante, foi o meu melhor período no atletismo. O meu rosto estava sempre tenso, como se todos os dias alguém me devesse e não me pagasse. Era o preço dos treinos constantes e provas para os primeiros lugares.
Os anos, como sucedeu a Frank, foram passando, mas continuava a ser quem era, nada mudara exceto uns quilinhos a mais mas poucos, até que um dia parei. Foram dois anos e meio parado devido a pubalgias que, segundo o médico, aconteciam muito aos corredores de alta competição, não tivesse sido ele médico do Benfica durante muitos anos (… de alta competição? Obrigado Doutor! ). E então engordei. Fui até aos 83 kg. De peso-pluma passei a peso-pesado. E como diria o poeta Mário de Sá-Carneiro:
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
Não me reconhecia, foi um pesadelo quando de novo voltei a correr. Mas mês a mês os kg foram ficando pelo caminho. De 83 kg passei para os atuais 72/73 kg. Aprendi a sorrir, o que dantes não fazia. Faço de cada prova um prazer e é esse rosto que agora aprendi a gostar. Estou mais velho, mas estou de bem comigo mesmo!
De todas as fotos que me tiraram até agora, há uma que considero a “minha” melhor foto sem desprimor para todos os fotógrafos que tiraram também boas fotos.
Reparem nesta sequência. Foi na Ultra Melides/Tróia 2010 (43 km de areia). Levava umas sete horas de corrida (como alguém me disse: «A andar também se corre»).
Estou completamente absorto nos meus pensamentos. Os ténis na mão, olho o mar, olho para o lado… E, de repente...
... Esta foto, assim como a do chapéu, tem uma história.
Quando olho para o lado vejo, sentado numa cadeira de praia, debaixo de um guarda-sol, com uma geleira ao lado, o fotógrafo, Eduardo Santos, um dos responsável pelo O Mundo da Corrida.
Aí está a razão do meu apontar, com um sorriso que considero o sorriso mais natural que até hoje tive, o de uma surpresa tão grande ao ver ali o Eduardo que esta foto, para mim, tem o significado que tem. É a minha melhor foto e, dificilmente, deixará de o ser.
(para o Eduardo as minhas desculpas por utilizar as fotos protegidas por Copyright, mas penso que este texto não ficaria bem sem esta sequência).
A música é um agradecimento ao Frank. Muitas vezes somos estranhos de nós mesmos. Saber envelhecer faz parte da vida, mas saber envelhecer não é para qualquer um.
6 comentários:
És um DURO Mário.
Essa prova foi fantástica, se possível quero voltar a repetir, e que esteja presente!
Grande abraço
Valiosa imagem Amigo Mário.
Este foi um dia memorável par quem participou. Belos foram os momentos de convívio.
Melides >Tróia é para voltar, pois já estou inscrito!
Abraço Amigo Mário.
Grande Mário,
São momentos que nos marcam pela positiva.
As Musas das Areias de Melides clamam por ti!!!!
Vamos lá a inscrever, Raider!!!!!
Luis Parro
"A andar também se corre..." Amigo Mário, pudera... Não são 5 ou 10 km, a Ultra Melides-Tróia não é para qualquer um!!!
Quanto à foto é o espelho da espontaneidade do Márius, sempre com um sorriso amistoso, ainda mais quando encontra um amigo.
Já fizeste grandes tempos e marcas na corrida, tiveste contratempos e lesões mas nunca desististe e por isso continuas um campeão, pois com muita vontade, gosto e trabalho estás outra vez a fazer bons resultados. Tomaram muitos...!!!!!! Um abraço!
Amigo, Mário.
O Mar que olhas é apenas e só uma maré das tuas melhores recordações, que enrolam pelos tempos de outrora até aos dias de hoje.
E esse teu sorriso será sempre o reflexo da simbiose entre a corrida e o teu ser, que tal como Sinatra que muitas vezes sorriu olhando os tempos de outrora sendo absorvidos pelos tempos que agora correm, o teu sorriso mostrará que o saber envelhecer é saber abraçar o mundo recordando o que passou mas ao mesmo tempo saboreando aquilo que por nós agora passa.
Um grande Abraço, Campeão.
Muito bem amigo Mário.....
Já vi que é PRO nestas andanças :D
Cá a minha malta é mais numa de lazer e contacto com a natureza.
Convido-o a espreitar o nosso blog
http://ciclobeatos.blogspot.com/
Saudações desportivas
Mário João
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