… E teria um dia que acontecer. Pela primeira vez desisti. Custa ter desistido a quatro km do fim, mas sabia que esses últimos km seriam dramáticos pois é um sobe e desce constante e não tinha condições físicas para os vencer.
Ao contrário do ano passado, desta vez não levei a máquina para tirar fotos pelo caminho. Queria fazer a prova sem grandes paragens e levar a camisola de ‘O Mundo da Corrida’ a cortar a meta em melhor tempo que do ano anterior.
Os primeiros km foram vencidos sem grandes problemas, o maior problema era a canícula que se fazia sentir. Um verão outonal que queimava. A limonada que levava no cantil era um chá quente. Não se podia beber. Em todos os abastecimentos fui bebendo e não foi por aí que desisti. Desisti porque não tinha hidratos de carbono, não tinha reservas para enfrentar os km em falta. Desgastei-me e não comi o que deveria comer. Com bananas à disposição, e marmelada que levava não lhes toquei e fui ao limite. No abastecimento onde se encontrva o António Almeida, a Paula Fonseca ainda me fez sorrir com o grito de: "Olha o Mário" e zás, lá vai foto.
Fui com o Joaquim Adelino por vários km. Num fontanário ele encheu o 'camelback' e ali tomámos um 'duche'. Atenuou um pouco os efeitos do intenso calor. Mas o Joaquim neste momento vai adquirindo a forma e seguiu.
Aos 22 km depois da subida mais íngreme que me lembrava do ano passado, já não podia mais. O Fernando Fonseca incentivou-me: «Vai Mário, és um duro». Encostei-me a uma árvore. Sentado, outro companheiro tinha desistido. Outros já tinham ficado pelo caminho. Mas lembrei-me que tinha feito Melides/Tróia. 43 km em areia, duríssimos e tinha conseguido. Deu-me uma de raiva e segui caminho. O companheiro que estava sentado veio ter comigo e lá fomos os dois. Viria a ficar no abastecimento seguinte.
O meu objetivo era chegar ao fim e mais uma vez não comi nada. Segui até ao abastecimento dos 29 (?). Já só andava, nem tentar correr podia. O sol queimava e eu bebia, bebia… Nesse abastecimento, vejo chegar a última atleta com o Zé Magro o “Atleta vassoura”. Enquanto eles ali ficavam vou caminhando. Encontro o Carlos Coelho. Vejo-o de longe, o corpo bamboleia. Dobra-se e chego ao pé dele. Seguimos os dois. Um casal conhecido, encontro-os parados. O homem já não pode mais e desiste, a companheira segue (viria a perder-se mais tarde). Ouço vozes atrás, ali vinha o Zé Magro. A atleta que vinha com ele, passa por nós em passo rápido, até parecia que eu estava parado. E o Zé fez-nos companhia. Atrás vinha uma carrinha com alguns desistentes. O Fernando Fonseca a apanhar as garrafas deixadas pelo caminho e eu disse que já não podia mais. O Zé sempre incansável a puxar por nós. Passamos os 30 km, o Fernando foi-me buscar uma garrafa de litro e meio e despejei-a pela cabeça abaixo. A meu lado, o Carlos também em queda. Começou a dar-me vómitos e aos 31 km desisti. Pela primeira vez entrei numa carrinha (já tinha entrado mas por lesão aos 29 km nos 50 km da Geira Romana). Vomitei e fiquei melhor mas já nada havia a fazer. Restou-me a consolação de ter sido o último a desistir. O Carlos acabou a prova com o Zé Magro. Dentro da carrinha só pensava numa coisa, beber uma cerveja preta bem fresquinha e, quando a carrinha chegou a Portel, foi o que fiz… E que tão bem ela me soube!
Obrigado Fernando e Zé Magro pelo apoio. A Organização de ‘ O Mundo da Corrida’ esteve impecável.
… E como a frase que abri este tema: "o caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez", pró ano voltarei e irei vencer de novo o Grande Lago!
11 comentários:
Há dias assim, amigo Mário.
Só quem está lá dentro é que sabe o que se passa.
Um grande abraço
Olá Mário,
Tenho uma certeza...como é um verdadeiro "duro" no próximo ano voltará e irá mostrar a sua garra!
Abraço!
Olá Mário
Não são essas pequenas coisas que nos "atiram abaixo".
Quantos milhões nem conseguem correr 3km.
Para o ano lá estarás de certeza para concluir essa durissima prova(com o calor ainda mais).
Mais vale desistir no "momento certo" sendo isso um sinal de experiência e de inteligência, do que continuar prejudicando a saúde.
Este calor prejudica bastante quem corre, parece que se vai embora amanhã.
continua a correr
com os cumps
J.Lopes
Amigo
há dias maus até para um "duro" como tu...
Espero que tenhas aproveitado os dias de "férias" com a esposa.
Até um dia destes.
Abraço,
António Almeida
Olá amigo Mário. O calor foi um inimigo terrivel e implacável para muitos corredores.
Com pena minha não consegui levar-te até ao final, bem que teria gostado muito de cortar a meta na tua companhia e do Carlos Coelho que embora debilitado foi um combatente. Teria sido magnifico o trio.
Para o ano irás dar um bigode nesta prova e ficar bem longe de mim , como atleta Vassoura.
Gostei muito de te ver com a camisola da nossa Associação. Grande abraço
Zé Magro
Isto não foi uma desistência, Mário. Foiantes uma inteligente retirada estratégica. Já me aconteceu e não são estes momentos menos bons que nos vão afectar. Grande abraço. Fernando Andrade
Deixa-me animar-te com uma das minhas historias!
Eu costumo dizer que nunca desisti numa prova mas a questão não é assim, é mais complicada!
Na altura das “gloriosas” Transestrelas em duas etapas (salvo o erro na 3ª edição) acabei a primeira etapa de gatas (eram para ai uns 30 quilómetros). Nem me atrevi a ir almoçar, bebi litros de agua e isotonico mas nem urinava nada!
Só comi um sopa a meio da tarde e depois de ter dormido um bom bocado!
Em tão mal estado estava que resolvi passar para os caminheiros e nessa condição fazer a etapa do dia seguinte.
Na altura os caminheiros faziam o mesmo percurso que os atletas (para ai uns 20 quilómetros na segunda etapa) mas partiam muito mais cedo ( 5 da manhã (!) salvo o erro).
Pensei que partindo as 5 da manhã apanharia muito menos calor e teria muito mais tempo para acabar aquilo embora a distancia fosse a mesma quer fosse caminheiro ou atleta!
Por isso não sei bem se isto foi uma desistência, uma meia desistência, ou que raio foi!
Na verdade desisti de ser classificado mas não desisti de percorrer a totalidade do percurso.
Para mim desistir é uma acto de inteligência, o saber avaliar aquele ponto em que continuar implica por a nossa saúde, e até a nossa vida, em perigo.
Ainda não me calhou a mim uma desistência (só uma meia desistência!) mas qualquer dia acontece-me (nas Lampas esteve quase!)
Desculpa lá este comentário “XL”!
Grande abraço.
Olá amigo Mário, tu estiveste lá e percorreste 31 km, que, mesmo em condições atmosféricas rigorosas, no entusiasmo e alegria que te caracteriza, com toda a certeza desfrutaste bem, fazendo o que mais gostas, lado a lado com a natureza. Desistir na altura certa, é na verdade um acto de inteligência (como li atrás...) e para o próximo ano lá estarás outra vez...para vencer. Um abraço!
Pois é Mário, aquilo é tudo menos uma desistência, paraste e venceste uma etapa, para o ano há mais.
Esperei que viesses e tentei trazer-te mas vi que estavas em dificuldades, o sol estava abrasador e não tive outra solução do que prosseguir, pois já começava a sentir o estômago ás voltas e a água pouco efeito já fazia, a desidratação esteve sempre próxima e por isso também só queria era chegar e acabar com aquele suplício.
Sei que és um guerreiro e não te deixas vencer facilmente. A Margarida vai reservar 2 lugares para nós para o próximo ano assim que ler este "recado", vais ver que para a próxima tudo vai correr bem. Abraço.
Olá mano,
li mais esta tua crónica e não posso deixar de estar de acordo com algumas intervenções dos teus companheiros. O que fizeste não foi uma desistência mas uma medida inteligente de teres condições de saúde e técnicas para continuares a praticar num já amanhã o que gostas de praticar ... o atletismo. Continuar para além do que descreves seria uma completa irresponsabilidade e as "loucuras" por vezes pagam-se infelizmente caro. És um corredor de fundo no que à prática da modalidade diz respeito e por essa razão não terias nada que provar a ti próprio ou a alguém. Apenas terás cometido uma pequena falha quando o corpo te começou a dar "avisos" e não o alimentaste conforme ele solicitava. Até os veteranos têm pequenas falhas e corrigiste-as quando soubeste parar e parar nas circunstâncias que foram não é desistir ... é saber ser inteligente.
Outras provas e adversidades irás nelas ter e só terás que continuar a ser prudentemente inteligente.
Abração
Como sabe Mário... acontece...aos melhores, aos piores, aos assim-assim e desta vez aconteceu ao Mário Lima. Importa que já tenha recuperado e tenha sabido parar. E grandes lagos há por aí muitos, para o meu amigo atravessar!
Beijinho
Ana Pereira
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