11.11.24

EU E O ATLETISMO

Desde criança, sempre gostei de correr e de andar muito. Em Luanda, com 9 anos, percorria a pé a distância do meu bairro S. Paulo, até à escola primária (Rua El-Rei D. Dinis - Combatentes), depois Preparatória (Escola Industrial - Vila Clotilde e João Crisóstomo - Macambira), Secundário de novo na Industrial, e outros locais, tudo a uma distância considerável. Quem ia, também tinha que voltar. Hoje em dia, os pais levam os filhos de carro, mas naquela época, fazíamos tudo a pé ou a correr.

Um dia, com cerca de 16/17 anos, juntei-me ao Benfica de Luanda (Sport Luanda e Benfica), onde já treinava (ou começámos ao mesmo tempo) o meu irmão mais velho, Josué Lima. Trabalhava durante o dia, estudava à noite e ia a pé para todos esses locais, treinando nos Coqueiros, na baixa de Luanda. Para quem conhece Luanda, era um 'esticão' ir do meu bairro de S. Paulo até aos Coqueiros. Mas a paixão não conhece distâncias.

Adorava a pista. Era muito rápido, estava no meu elemento. O meu irmão, por outro lado, era mais dedicado ao meio-fundo. Experimentei o salto em altura, salto em comprimento e barreiras (onde não podia errar a contagem dos passos), e saía-me bem. Apesar de treinar intensamente, nunca participei numa prova oficial.

Um dia, o treinador decidiu 'inovar' e obrigou-me a experimentar o lançamento de dardo. Detestei. Não tinha jeito para aquilo, mas ele via algo mais em mim e continuou a insistir. Contudo, como só faço o que gosto, disse-lhe que, se não retirasse o dardo dos meus treinos, quem se retiraria seria eu.

Naquela época, os treinadores tinham muita autoridade e as pessoas, mesmo contrariadas, obedeciam. Mas eu, filho do meu pai, não. E assim, com muita pena minha, encerrei a minha passagem pelo atletismo.

Voltei a correr aos 39 anos e, felizmente, ainda fui a tempo.

Foto: Estádio dos Coqueiros no meu tempo, anos 60. Já com pista. Angola estava muito à frente.

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