Tínhamos que sair do quartel em patrulha. Carregados com as nossas mochilas, ponche (camuflado impermeável), e mosquiteiro enrolado ao pescoço, percorríamos muitos km’s em vários dias por picadas, com poças de água estagnada, e trilhos abertos na floresta do Maiombe. Aqui e ali árvores de grande porte tombadas requeriam atenção redobrada pois não sabíamos o que poderia estar atrás delas. Por vezes, embrenhávamos na floresta cortando cipós que se atravessavam no caminho para um objectivo previamente definido ou simplesmente para descansar. O cansaço era muito, o Alferes tinha ficado sentado, já não podia mais. Apercebendo-me disso, parei e voltei para trás. O radiotelegrafista liga para o quartel a fim de ser enviado um Unimog para evacuação do Alferes e, deixando-lhe um grupo de segurança, sigo o trilho, com o meu grupo de combate, até ao objectivo.
36 Anos Depois
No alto da encosta o fotógrafo (Fernando Cerdeira) observa-me. Cansado de tantos km’s percorridos, olho para cima e só vejo sulcos de lama deixados pelos outros corredores. Não há onde me agarrar a não ser uma vegetação rasteira cheia de picos. Felizmente levava luvas e fui subindo lentamente. Os meus companheiros que iam à frente já tinham subido, restava eu. Olho para trás, não via ninguém. Só o fotógrafo, sereno, aguardava a minha subida. A minha vontade era sentar-me e aguardar que alguém ali me viesse buscar, lembrei-me do Alferes, olhei mais uma vez para cima, a máquina disparou e, num impulso, galguei os últimos metros que me separavam do topo. Esperavam-me mais 20km para atingir o objectivo,... a meta.
O Grupo Pára&Comando, formado por mim, Susana, Costa e Joaquim Adelino aguardavam na Aldeia do Mato que a partida fosse dada.
Sabíamos, pelo Brito, que tinha sido alterada a quilometragem do percurso, de 35 para 38km (seriam 40km, mais aqueles que fiz por me ter enganado).
Vou em andamento rápido com o Vítor Veloso. Ao contrário do que fizera uma semana antes em Sicó, a minha intenção era desfrutar ao máximo a beleza da natureza envolvente, se necessário parar e apreciar. Foi o que fiz. Já com o António Almeida, um olhar da Barragem do Castelo de Bode, onde a água saía em jacto da sua boca escancarada.
Umas fotos tiradas e seguimos. Depois foi a descida para a barragem. O terreno estava escorregadio, se algum pé falhasse era certo que não iríamos segurar-nos naquele piso.
Nessa altura pensei na Susana, no que poderia acontecer-lhe pois o trilho estava mau demais para quem se ia meter numa aventura deste tipo pela 1ª vez (mais tarde tive a grata surpresa de a ver passar por mim feliz que nem uma gazela).
Depois, já com a companhia da Analice, foi saltar árvores, passar por caminhos estreitos e eis um barquinho ancorado nas águas turbulentas do Rio Zêzere.
Continua
Fotos: Fernando Cerdeira, Pedro Mestre (AMMAMAGAZINE), Paulo Fernandes (Lebres do Sado) e Pedro Caetano - AbutresRunningTeam
P.S. - Na foto da tropa, estou no interior da floresta do Maiombe. Atrás de mim um rio passava, o rio Chiloango
6 comentários:
Companheiro
venham mais palavras, quero mais...
Parabéns pela tua prova, muito bom os quilómetros que corri na tua companhia, fotos espectaculares.
Até já, abraço.
António Almeida
Amigo Mário,
Que espectacular prova, no meio da natureza lindas paisagens.
Foi de bom agrado que corri ao seu lado aquelas primeiras dificuldades, nem pensaria o que viria!
36 anos depois, fez-lhe relembrar tempos na tropa, não são só más recordações, são sempre mais as boas que ficam na memoria.
Parabéns pela sua prova.
Voltarei para ver a continuação
Grande abraço
Vitor Veloso
Aquela da tropa está muito bem metida ali, podemos falar das coisas menos boas enquadrando-as naquilo que nos dá prazer, sem chatear seja quem for.
Quero mais, queres apostar que ainda te vou agarrar?
Venha o resto.
Abraço.
Bom dia Mário, as reminiscências e todas as "aventuras" passadas na tua vida militar encaixaram bem nesta tua prova, ao lado dos teu amigos, num amplexo com a natureza. Sem qualquer dúvida deve ser gratificante praticar desporto que se gosta a contemplar toda a beleza que a mãe natureza nos oferece. Essa zona do país, onde se junta o Zêzere ao Tejo é de grande beleza e já há algum tempo que ando para visitar, fiquei com uma ideia...Parabéns pela prova!
Um Abraço!
Olá Mário
Está engraçado a ligação da actividade militar com a actividade de lazer.
Deve ter sido uma prova difícil ( com tantas subidas) mas o contacto com a natureza ( aquelas paisagens, os cheiros...) e o chegar ao fim atenuou certamente as dificuldades.
com os cumps
J.Lopes
Olá amigo Mário,
Isso é que foi ganhar gosto pelos trilhos... e caminhos de bois e cabras, no espaço de 1 semana duas provas que deduzo de ímpar e invulgar beleza e em contacto permanente com o verde, e além do mais merece os parabéns pela odisseia/feito, que não está ao alcançe de todos, por mim falo, é preciso coragem, logo após a estreia neste segmento, 40 Km é obra, além disso o grau de dificuldade deve ter sido exigente, apesar da beleza eventualmente ter atenuado o esforço decerto terá sido recompensador.
Um grande abraço e fique bem!
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