Nos passos marcados pela vida, a valsa deslizava pelos anos, um baile solitário que ele dançava com a perseverança como parceira. Trinta e três anos se passaram, e cada movimento da corrida era um compasso do tempo, uma coreografia íntima entre o homem e o seu caminho.
Ele corria não só com as pernas, mas com a alma, lançando-se em busca de horizontes invisíveis. A estrada, sua eterna pista de dança, conhecia-lhe os segredos, confidências de suor e cansaço deixadas ao vento. Cada amanhecer era um novo acorde, cada anoitecer, a promessa de um novo ritmo.
Por vezes, a melodia era suave, passos leves que mal tocavam o chão. Noutras, o ritmo acelerava, urgência e fervor pulsando no peito. Mas a cada queda, a cada tropeço, ele erguia-se com a teimosia dos sonhadores, pois sabia que a valsa da vida é assim: um vaivém constante entre a esperança e a superação.
Até que um dia, inevitavelmente, as pernas, fiéis companheiras de tantos bailes, irão ceder ao peso dos anos. O último compasso soará mais lento, um final triste, mas belo, um adeus à pista de dança que tanto amou. E ali, no silêncio que segue o último acorde, ele compreenderá que a verdadeira valsa nunca cessa, pois continuará a ressoar na memória dos seus passos, na história que deixou gravada no tempo.
Assim será a sua corrida, uma valsa pela vida que, mesmo no fim, ecoará no coração dos que compreendem a beleza do movimento, da perseverança e do viver plenamente, até o último suspiro.
foto: Nuno Luís
Sem comentários:
Enviar um comentário