7.8.23

Será o desportista um solitário?

Nas provas, fora casais que correm lado a lado (e nem sempre), verifico que na maior parte das vezes, depois de no início se manter um diálogo amigo, quando a prova começa é cada um por si. Raramente se associam a um atleta com o mesmo andamento talvez que sintam condicionados, como já me aconteceu ir ao lado de atletas conhecidos e me pedirem para o não fazer pois não se sentiam à vontade. Vamos analisar então essa faceta, na generalidade, do desportista.

Não há uma resposta definitiva, pois depende de vários fatores, como o tipo de desporto que se pratica, a personalidade do desportista, os seus objetivos e motivações, o seu contexto social e cultural, etc.

Uma abordagem possível é a de considerar o desporto como uma forma de expressão da motricidade humana, que é o movimento intencional e solidário da transcendência1.

Nesta perspetiva, o desporto não é apenas uma atividade física, mas também uma atividade espiritual, ética e política, que visa a realização plena do ser humano. O desportista, então, não seria um solitário, mas um ser em relação com os outros e com o mundo, que procura superar-se a si mesmo e contribuir para o bem comum.

Outra abordagem possível é a de considerar o desporto como uma atividade económica e profissional, sujeita às regras do mercado e da concorrência. Nesta perspetiva, o desporto seria uma fonte de rendimento e de prestígio para o desportista, que teria que se adaptar às exigências e às oportunidades do seu meio. O desportista, então, poderia ser um solitário ou não, dependendo da sua estratégia e da sua capacidade de negociação. Por exemplo, poderia optar por trabalhar em equipa ou individualmente, por colaborar ou competir com os seus colegas e adversários, por ser leal ou desleal, etc.

Uma terceira abordagem possível é a de considerar o desporto como uma forma de lazer e de diversão, que proporciona prazer e satisfação ao desportista. Nesta perspetiva, o desporto seria uma escolha pessoal e voluntária do desportista, que procuraria realizar-se através da sua paixão e do seu talento. O desportista, então, poderia ser um solitário ou não, dependendo do seu gosto e da sua disponibilidade. Por exemplo, poderia preferir praticar desportos individuais ou coletivos, participar em competições ou em eventos recreativos, integrar-se em grupos ou em comunidades ou isolar-se dos outros, etc.

Como se pode ver, há várias formas de olhar para a questão do desportista ser um solitário ou não. Cada uma delas tem as suas vantagens e as suas limitações, e nenhuma delas esgota a complexidade e a riqueza do fenómeno desportivo. Talvez a melhor resposta seja aquela que respeita a singularidade e a liberdade de cada desportista, reconhecendo que ele ou ela pode ser um solitário ou não, conforme as suas circunstâncias e as suas preferências.

1: Humanismo e Desporto: subsídios para uma reflexão (artigo de Manuel Sérgio)

Sem comentários: