Enquanto permaneci na UCI estive sempre durante o período da noite, com uma máscara terrível que insuflava oxigénio a 15L/min. tal a infeção que tinha nos pulmões, a máscara VNI. Durante o dia era uma outra máscara mais suave. À noite pedia a todos os santinhos para que rapidamente deixasse de ser dependente daquela máscara que me obrigava a estar de boca aberta, que me secava a garganta e o nariz mas, segundo os médicos, foi esta máscara que me 'salvou'.
Os médicos verificando que eu tinha melhoras aquando a sua utilização, fizeram-me perceber que a evolução da minha cura dependia da máscara. E eu claro acedi, iria sofrer dias com aquela máscara, até que um dia ma retiraram, só necessitava de um débito de 5L/min., aquela acabava ali a sua função.
Por duas vezes, porque me virava muitas vezes, o tubo soltou-se da máscara e eu aflito à procura dela mas lá consegui encontrar e encaixar.
Todos os dias, depois do pequeno almoço, sentava-me num cadeirão por indicação médica. Como tive uma grande infeção, o estar sentado seria para expandir os pulmões. Sentava-me de manhã até ao lanche. Os enfermeiros ao verem-me tanto tempo ali sentado, perguntavam se não queria deitar e eu: Não! Se era para expandir os pulmões então vamos expandir.
Na hora que saí do UCI disse-me uma enfermeira: Sr. Mário, vamos ter muitas saudades suas - Porquê - perguntei - É que você não deu trabalho nenhum.
Claro que dei trabalho, mas procurei ser sempre colaborante e é isso que está no relatório.
Andei de quarto em quarto, ora em cama, ora de cadeira de rodas, sempre com uma botija de oxigénio atrás.
Depois de estar em quartos sozinho onde deambulava agarrado à cama, ou dando pequenos passos, sempre com a máscara, para isso colocaram-me um tubo com mais de 2 m para tanto ir tomar banho, como para andar o que podia (durante a permanência perdi 10 kg e muita massa muscular), fui para um quarto onde tinha companhia. Inicialmente um senhor de 81 anos que foi transferido para o Hospital das Forças Armadas dois dias depois. Admirava aquela pessoa, com aquela idade e cheia de força de viver. Durante a noite a única luz que tínhamos acesa era a da casa de banho para podermos lá ir sem ser às escuras.
Depois da saída deste companheiro (as camas eram sempre desinfetadas), perto da uma da manhã, entra um novo utente. Ligado a máquinas, com uma farfalheira terrível, fica ali a meu lado (tínhamos uma cortina a separar). As enfermeiras sempre em cuidados com ele, nessa noite não dormi nada tal era o barulho que o JS fazia (sei o nome mas, como é óbvio, não o coloco aqui).
Durante esse dia a farfalheira continuava. Eu olhava para ele impotente, ele com ar suplicante, as enfermeiras dando o seu melhor.
Perto das três horas da tarde, a farfalheira deixou de se ouvir, um som cavo e silêncio absoluto.
JS tinha morrido!
foto: na cama que se vê ao fundo.
5.1.21
3.1.21
Covid -19 - O café
Fez no dia 1 de janeiro, três meses que saí do hospital curado do Covid-19.
Uma das sequelas é o 'lapsus memoriae'. Lembro-me de algumas coisas, outras não. Estive também perto de um mês e meio, sem dormir uma noite seguida. No hospital quando pretendia dormir, apareciam sempre imagens terríficas e, curiosamente, em vermelho. Milhares de lagostas ou parecidas, marchavam.
Numa roda gigante cortada ao meio no sonho, surgiam meios corpos de mulheres a olharem para mim com sorriso malévolo, um sujeito em evidência no meio de rostos (penso que isto pertence a uma publicidade mas ainda não descobri qual), todos a olharem em minha direção e tudo em vermelho. Como dormia mal, pedi que me dessem comprimidos para dormir, mas de nada valiam. Os sonhos persistiam numa tortura constante. Eu até evitava fechar os olhos para dormir.
Depois de quatro dias em coma, 'acordei' e sentia na cama, por baixo, uns altos, tipo gomos, que iam mudando, ora mais alto de um lado, ora de outro. Era um anti-escaras, que me foi retirado dias depois, porque eu fazia os possíveis para não estar sempre de barriga para cima. Agarrava-me aos ferros laterais da cama e ia-me virando. Perante isto disseram-me que como conseguia virar sozinho o melhor era tirar aquilo. Foi um alívio. Durante o tempo que estive com o Covid, nunca perdi o olfato e o paladar. Perdi depois.
A comida era passada tipo papa para crianças, até que uma enfermeira perguntou se tinha placa, como felizmente os dentes ainda são meus, disse que não, então a enfermeira referiu que não fazia sentido eu estar a comer aquilo e passaram a comida sólida (muito peixe comi).
Um dia, no turno da noite, em conversa com um enfermeiro (estive sempre com máscara de oxigénio) eu disse-lhe que tinha saudades de um café. Ele disse: <>.
Estava na UCI, pensei que isso só fosse para me fazer descansar.
No dia seguinte, depois de mais uma noite tormentosa, veio o enfermeiro do turno da manhã com um café na mão para mim.
"O meu colega disse que você queria um café, aqui está ele."
Foi o melhor café que tomei até hoje.
Uma das sequelas é o 'lapsus memoriae'. Lembro-me de algumas coisas, outras não. Estive também perto de um mês e meio, sem dormir uma noite seguida. No hospital quando pretendia dormir, apareciam sempre imagens terríficas e, curiosamente, em vermelho. Milhares de lagostas ou parecidas, marchavam.
Numa roda gigante cortada ao meio no sonho, surgiam meios corpos de mulheres a olharem para mim com sorriso malévolo, um sujeito em evidência no meio de rostos (penso que isto pertence a uma publicidade mas ainda não descobri qual), todos a olharem em minha direção e tudo em vermelho. Como dormia mal, pedi que me dessem comprimidos para dormir, mas de nada valiam. Os sonhos persistiam numa tortura constante. Eu até evitava fechar os olhos para dormir.
Depois de quatro dias em coma, 'acordei' e sentia na cama, por baixo, uns altos, tipo gomos, que iam mudando, ora mais alto de um lado, ora de outro. Era um anti-escaras, que me foi retirado dias depois, porque eu fazia os possíveis para não estar sempre de barriga para cima. Agarrava-me aos ferros laterais da cama e ia-me virando. Perante isto disseram-me que como conseguia virar sozinho o melhor era tirar aquilo. Foi um alívio. Durante o tempo que estive com o Covid, nunca perdi o olfato e o paladar. Perdi depois.
A comida era passada tipo papa para crianças, até que uma enfermeira perguntou se tinha placa, como felizmente os dentes ainda são meus, disse que não, então a enfermeira referiu que não fazia sentido eu estar a comer aquilo e passaram a comida sólida (muito peixe comi).
Um dia, no turno da noite, em conversa com um enfermeiro (estive sempre com máscara de oxigénio) eu disse-lhe que tinha saudades de um café. Ele disse: <
Estava na UCI, pensei que isso só fosse para me fazer descansar.
No dia seguinte, depois de mais uma noite tormentosa, veio o enfermeiro do turno da manhã com um café na mão para mim.
"O meu colega disse que você queria um café, aqui está ele."
Foi o melhor café que tomei até hoje.
7.12.20
5km pós Covid
Consolidados os 3km sem parar, passei à fase seguinte, correr/caminhar/correr 5km.
Até ao fim do ano, com estes lentos mas progressivos aumentos de quilometragem, não daria para fazer a S. Silvestre (mesmo virtualmente), mas o objetivo é para o ano, passada esta maldita pandemia, conseguir estar numa prova junto aos amigos e sentir a adrenalina da partida... E da chegada!
Para quem corria mais de 50km é frustrante, mas a vida é assim mesmo.
Até ao fim do ano, com estes lentos mas progressivos aumentos de quilometragem, não daria para fazer a S. Silvestre (mesmo virtualmente), mas o objetivo é para o ano, passada esta maldita pandemia, conseguir estar numa prova junto aos amigos e sentir a adrenalina da partida... E da chegada!
Para quem corria mais de 50km é frustrante, mas a vida é assim mesmo.
30.11.20
3km pós Covid
Objetivo conseguido
Estava difícil mas hoje consegui correr 3km sem parar.
Quem não tem noção do que o vírus provoca, até lhe assome um sorriso por eu estar a realçar o facto de ter feito 3km pois isso, para um atleta a sério, nem para aquecimento serve.
Mas para mim, nesta altura, é uma vitória. Agora há que consolidar estes 3km e depois partir para os 5km.
Com calma, paixão e vontade isto vai, aos poucos mas vai.
Estava difícil mas hoje consegui correr 3km sem parar.
Quem não tem noção do que o vírus provoca, até lhe assome um sorriso por eu estar a realçar o facto de ter feito 3km pois isso, para um atleta a sério, nem para aquecimento serve.
Mas para mim, nesta altura, é uma vitória. Agora há que consolidar estes 3km e depois partir para os 5km.
Com calma, paixão e vontade isto vai, aos poucos mas vai.
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